Um movimento de direita conservadora tão grande como o que surgiu no país nos últimos cinco anos é uma novidade na vida política republicana do Brasil.
Ao contrário do que nossos adversários políticos querem fazer crer – e estão nisso apenas a cumprir seu propósito de confundir, pois são adversários – nunca houve relevância conservadora no que até hoje se chamou de direita no Brasil.
Pode-se identificar em nossa história política republicana uma ação política de liberais e positivistas. Evidentemente, liberais e positivistas à brasileira.
O golpe republicano foi obra de elementos fortemente influenciados pela estupidez do positivismo de Comte. Getúlio Vargas foi forjado na tradição positivista de Julio de Castilhos e Assis Brasil. E os militares de 1964 também foram formados com o espírito tecnocrata e revolucionário dos discípulos de Auguste Comte.
Faço essa introdução histórica muito superficial para que não se tenha dúvida daquilo que ora vivemos: ainda que Jair Bolsonaro seja um militar e existam muitos militares entre os novos líderes da direita nacional, a mentalidade revolucionária não é mais tolerada pela maioria da direita brasileira. Nem mesmo quando vinda dos quartéis. Mas, aparentemente, alguns de nossos militares-políticos também já perceberam isso.
Receitas fáceis de reconstrução nacional não colam mais. O brasileiro quer reformar o que não presta e conservar as nossas conquistas enquanto nação. Queremos mais liberdades e menos Estado, para que o Estado seja um meio para auxiliar o desenvolvimento nacional quando for estritamente necessário e não mais a nação como um meio para auxiliar o desenvolvimento do Estado e, lógico dos seus burocratas e políticos.
ESTRATÉGIA
Por ser um movimento novo, o conservadorismo brasileiro está ainda na infância. Há muita imaturidade entre os adeptos do conservadorismo, que sequer podem ainda ser chamados de militância.
Somos desorganizados, não há orientação estratégica, não sabemos para onde queremos ir como movimento político (não confundir o movimento político com a administração pública) e nem vemos ninguém pensando a respeito disso.
A razão disso é a falta de um partido político. Por mais que os brasileiros conservadores detestem partidos políticos por conta da péssima experiência brasileira com estes organismos políticos, é preciso ter maturidade para perceber que partido não é coisa intrinsecamente ruim. Ele torna-se ruim quando serve a maus propósitos, como sempre aconteceu no Brasil.
Um partido político conservador vai errar e acertar em uma caminhada rumo aos bons objetivos que norteiam o comportamento conservador. Mas estarmos organizados como partido é fundamental.
Evidentemente não é apenas essa a única forma de organização para os conservadores. Precisamos de think tanks, grupos de estudos e núcleos de debates conservadores tocados pela sociedade civil. E eles estão surgindo em alvissareiras iniciativas de brasileiros do bem.
O caminho para iniciar a nossa organização partidária ainda não está definida. O Aliança Pelo Brasil é um projeto bem pensado, porém vem sofrendo com a má vontade do Tribunal Superior Eleitoral. Já conquistamos muito mais apoiamentos que seriam necessários, mas a maioria absoluta deles foram rejeitados pelo preciosismo do TSE, presidido por Luís Roberto Barroso.
POR QUE DOIS PARTIDOS?
Mas até agora eu escrevi, escrevi em não tratei do núcleo do assunto apresentado no título deste texto: a direita brasileira precisa de dois partidos. E, por quê?
Por razões estratégicas. Nem sequer precisamos inventar a roda, basta observarmos a ação dos adversários. Se o movimento conservador está na infância, a esquerda está no auge da experiência e nos dá testemunho da eficiência da fragmentação partidária.
A esquerda brasileira tem uma locomotiva, que é o chamado Partido dos Trabalhadores. O PT é o carro-chefe, o principal agente da revolução socialista no Brasil. Ele opera conforme as circunstâncias, se adapta e é capaz até de manter políticas econômicas dos seus adversários, como fez Lula para chegar e se manter no poder.
Mas ao lado do PT estavam importantes linhas auxiliares. Desde muito tempo já existia o PC do B. Após a chegada ao poder, surgiu o PSOL e a REDE Sustentabilidade. A esquerda aparentemente se fragmentava, mas na hora da ação, se une. Enquanto o PT engambelava adversários com sua suposta ortodoxia econômica neoliberal e seu fingido respeito aos cristãos, as linhas auxiliares faziam a pressão pela Esquerda. E o PT tinha que atendê-los, agradando gregos e troianos e avançando com sua agenda socialista e identitária.
Da mesma forma que uma faca serve para passar manteiga ou para matar, uma estratégia política pode servir para o bem e para o mal. A direita conservadora precisa de um partido mais moderado e outro mais radical. Não há como manter radicais e moderados no mesmo partido. É contraproducente.
Radicais e moderados no mesmo partido falam apenas do que os separa. Em partidos diferentes buscarão a agenda comum. Se não tivermos esses dois partidos de direita, não tenham dúvidas de que um partido do centrão ou até da centro-esquerda se apresentará como a direita moderada, como aconteceu durante um bom tempo com o PSDB fazendo esse papel.
Política é uma arte. E uma das principais técnicas para o exercício dessa arte é a estratégia. Fora da estratégia não há salvação, não haverá êxito.