Comentários e textos sobre a Nova Iguaçu de cem, oitenta ou cinquenta anos atrás são muito comuns. Uma cidade que deixou saudades em quem a conheceu, quer pelos perfumes dos laranjais, quer pela tranquilidade de uma cidade ainda bucólica, onde todos se conheciam.
Evidentemente não sou desse tempo, mas conheci uma Nova Iguaçu desde a minha infância ao início da adolescência que era muito diferente da atual. Eram os últimos suspiros, o tempo da despedida daquela cidade que tantas saudades deixou, já em transição para a Nova Iguaçu caótica e desgastante que temos hoje.
Para começar, o trânsito. Poucos eram os automóveis circulando pelas ruas. Sinal de trânsito, por exemplo, havia um, apenas um, e era de pedestres. Ficava na Av. Marechal Floriano, na travessia da Estação para a Nilo Peçanha. E não tinha muita utilidade. Já havia o viaduto João Musch, mas não o do Caonze, nem o do Extra.
Na Estação não havia lojas. Seu mezanino era amplo e lá sempre havia um pregador protestante buscando a atenção dos transeuntes. Era um tempo de pouquíssimos evangélicos por aqui, mas nosso bispo já era Dom Adriano e esse quadro começava a mudar.
Na Estrada de Madureira, que ainda não era Abílio Augusto Távora, a cor predominante era o verde dos sítios e de grandes áreas vazias. Do Centro até Tinguá também havia mais vazios que construções e a Fazenda São Bernardino, embora já incendiada, ainda estava em razoáveis condições, com todas as paredes de pé. Entre o pequeno comércio de Miguel Couto e a tímida concentração de Vila de Cava, me lembro de um boteco com sinuca onde descansava e bebia água nas vezes em que fui de bicicleta até Tinguá.
No aeroclube ainda havia voos de pequenas aeronaves, sobretudo nos finais de semana. Também me lembro de ir até lá ver aviões de aeromodelismo. E nos céus os balões ainda eram muito comuns, bem como as pipas. Havia muitos pipeiros nas ruas do Centro, por exemplo, algo inimaginável na Nova Iguaçu de hoje.
Por falar em Centro, passeando pelos seus dois lados, havia a boutique da Creuza, o aviário “Zé Ketti“ do Tião, o Vianense ainda onde fora o “packing house” FAMA, o barracão dos Távora, as padarias Fluminense e Narciso, o Colégio Rio de Janeiro, onde hoje é a Casa de Cultura, o Hospital de Iguaçu, que seria fechado duas décadas adiante pelo forasteiro Lindbergh, o Forró Ferrado, a Must, a Drama, a Sapasso, a Lubene, o bar Pinguim, onde meu pai cumpria “expediente” todos os dias depois do trabalho e, ali pertinho, a banca de jornais do Rico com as revistas em quadrinhos mais recentes. O escritório do meu avô e a loja da Tia Nicinha na Galeria das Marcas. A boate Signal em um velho barracão de laranja próximo à Associação Rural e à concessionária Ludo, que esquentava o lugar que seria ocupado pelo Top Shopping. A queijaria do Seu Plínio, o Matadouro, o supermercado Disco, a grande feira livre à margem da linha férrea com a barraca de roupas do Seu Dibi, um típico mascate libanês, a barraca de laranjas do Seu Costa e tantas outras. Quando começou a febre das locadoras surgiu a Lac Vídeo, a Shine Vídeo e a maior de todas, a Vídeo 4, depois Movie Market, na casa em que morara minha tia-avó Toninha. E não dá pra esquecer o Trasmontano, um ponto de encontro muito tradicional, local de comemorações dos títulos de futebol.
Lembro ainda das pessoas que não estão mais entre nós, como Sr. Ruy Afranio Peixoto, que gostava de contar suas histórias quando íamos jogar bola na quadra do seu colégio, os meus avôs Agostinho e Gilson, meu Tio Azzis, meus bisavós Custódio e Anna, Dr. Helio e Dr. Darcy Cianni, Sr. Arthur Silva, sempre sentado na varanda de sua casa na Rua Alfredo Soares, sua esposa Dona Maria, rezadeira de mão cheia, Dona Octacília Domingues, Dr. Paulo Fróes Machado com seu Voyage, sua esposa, Dona Argentina e seu filho Roberto Formigão. Padre Alexandre, brutalmente assassinado, Padre Agostinho Pretto, Dona Elza do Iguaçuano, Ney Alberto, Carlinhos Papaleo e Dona Darcy, o velho Cacko do posto de gasolina, Dona Conceição e Sr. Darcy Chuff, Dona Sara do Nascimento, ex-primeira-dama, Dona Nelinha, Dona Virialda, mãe da Dona Idalina do Patronato, Dona Neném, mãe do Chico Amaral, então vice-governador. Dona Okena, cujo nome me intrigava. Sr. Pedro Paulo Barbosa, pai do Dr. Zé Roberto e tantas e tantas outras pessoas das quais poderíamos ficar falando até amanhã.
Na política, porém, o tempo já era tenebroso e a conjuntura anunciava que a gloriosa Nova Iguaçu nos escapava entre os dedos. Foi o tempo da trinca das trevas: Paulo Leone, Aluisio Gama e Altamir Gomes. E sob montanhas de lixo não recolhido era sepultada de vez aquela Nova Iguaçu que deixou saudades.
A política iguaçuana estava sob os auspícios do fugitivo uruguaio Leonel brizola.
Nosso interventor, na época, ao invés de tomar as rédeas da política fazendo o povo priorizar nossos conterrâneos, entregou de vez a escritura da cidade, permitindo que aventureios fizessem dela seu chiqueiro eleitoral!
O lugar onde tinha musica..funk era o signus..