Imagine um líder e seu grupo. Imagine também que eles queiram fazer reformas consistentes nos problemas reais e urgentes de um país. Reformas que mexem com os interesses de muitos dos grupos que detém os intrumentos de poder de uma sociedade – servidores dos muitos órgãos de Estado, imprensa falada e escrita, universidades, crime organizado, especuladores, fraudadores, grandes bancas de advocacia e contabilidade, grandes corporações, dentre outros vetores de poder – e beneficiam a maior parte desta sociedade que, via de regra, sempre pagou a conta e não participou do banquete.
Um projeto dessa magnitude dificilmente teria êxito eleitoral já que os financiadores são os grupos que tal líder pretende prejudicar em nome do bem comum. Mas, consideremos que, por um milagre, esse projeto vença. Outras dificuldades viriam, pois os alvos desse projeto ainda têm o poder da imprensa, dos grupos de pressão, do Parlamento, da oposição, dos infiltrados no grupo vencedor.
Um quadro como esse seria uma grande oportunidade histórica que nenhuma sociedade deveria perder. No ambiente democrático as mudanças se dão muito lentamente e um cenário em que uma agenda beneficia a sociedade civil desorganizada chega ao poder deveria receber todo o apoio dos beneficiados, pouco importando se esse líder já tenha feito o diabo na sua vida, se ele é feio ou bonito, machista ou feminista, simpático ou antipático, cem por cento coerente ou se contradiga eventualmente. Dane-se o que é acessório. Uma construção política dessa magnitude é uma oportunidade que não se perde em nome de supostos pecadinhos, sobretudo por serem supostos e estarem no diminutivo em um ambiente em que tudo de ruim é superlativo.
Política não é assembleia dos santos, “é a arte do possível”, como afirmou Bismarck – cuja imagem ilustra a postagem. É também negociação, é oportunidade e é guerra de inteligência e cálculo. Se você está se afogando pouco importa se o salva-vidas é simpático. Se você está sequestrado por bandidos, pouco importa se o policial que te salva já recebeu um “café” pra fazer vista grossa para uma lanterna quebrada em uma blitz. Política é ceder dez para avançar doze; ela é lenta, é aparentemente contraditória, é um jogo de xadrez, é blefe e seus critérios de avaliação não podem ser os mesmos para julgar o noivo de sua filha ou para escolher um funcionário de confiança. Lamento decepcionar, mas política em ambiente democrático é ruim, é desgastante, mas a alternativa a ela é pior. Quem não tem paciência para ela está condenado a aturar o PT.