Mais próximos do cenário que se consolidará nas convenções partidárias, já é possível chegar a prognósticos mais relevantes para a eleição de prefeito municipal em Nova Iguaçu.
Pra começo de conversa, é preciso compreender que uma análise é algo objetivo, não é torcida e trabalha com dados e metodologia. O autor não participa de nenhum dos grupos políticos que pretendem concorrer às eleições, tampouco das pré-campanhas.
Além disso, a análise é feita em cima do cenário do momento. É, portanto, uma fotografia. Contudo, o processo político-eleitoral é como um filme, ele não é estático como a fotografia. Dessa forma, temos que considerar que a análise baseia-se no atual cenário das pré-candidaturas à Prefeitura de Nova Iguaçu em meados de junho de 2024. Trata-se ainda de uma análise resumida e de linguagem simplificada dada a natureza dos espaços em que será publicada.
UM PRIMEIRO PRINCÍPIO
Um dos primeiros passos para compreender um processo eleitoral é partir do princípio de que a disputa vai muito além das pessoas dos candidatos. Ela é, antes de tudo, uma disputa entre grupos políticos pelo poder. Há candidaturas que contam com vetores de poder relevantes ou elementos influentes em seus grupos ou aliados a eles. Outras, porém, são candidaturas chamadas pequenas, porque não contam com elementos em seu grupo que detenham influência ou poder relevante.
A partir daí avaliamos se uma candidatura é competitiva. E, mais adiante, o leitor entenderá melhor.
A SITUAÇÃO
Dudu Reina
A começar pelo lado da Situação, as duas principais forças políticas desse lado da disputa (o prefeito municipal e o deputado Luizinho) definiram a chapa Dudu Reina e Roberta Teixeira. A chapa conta com apoio de ex-prefeitáveis como Carlinhos BNH, Felipinho Ravis e Juninho do Pneu, além do bem avaliado prefeito Rogério Lisboa, do governador do Estado e de inúmeros vetores políticos e sociais de grande peso.
Além disso, por ser Situação, conta com a força da máquina, o que se soma a uma coligação partidária de mais de 10 partidos, a muitos candidatos à vereança, o que garante capilaridade em todo o município, além de muito mais recursos para campanha que os demais candidatos. Na sociedade civil, conta com apoios de entidades do comércio, de algumas denominações religiosas, empresários e pessoas de grande influência.
OPOSIÇÃO
Clébio Lopes Jacaré
Na Oposição, nenhum nome ainda se consolidou como principal arrivista da chapa da situação. Em estrutura, a princípio, o pré-candidato Clébio Lopes Jacaré (União Brasil) aparenta ser o mais bem servido dentre os opositores. Tem cinco partidos em seu grupo e está em pré-campanha há muitos meses.
Ademais, segundo seus apoiadores, também haverá recursos financeiros para uma boa campanha. Entre seus candidatos à vereança, há muitos ex-vereadores, gerando uma razoável capilaridade, porém bem menor que a da Situação, que terá mais partidos e, portanto, mais candidatos a vereador.
Tuninho da Padaria
Lindbergh Farias, por sua vez, apresenta Tuninho da Padaria como pré-candidato do PT. O ex-vereador já foi, digamos assim, o prefeito de fato durante o segundo mandato de Lindbergh. Era o homem que tocava o governo para o ausente prefeito de direito.
Contudo, Lindbergh aparentemente não faz muita força para construir uma pré-candidatura competitiva. Não há alianças relevantes, não contará com muitos candidatos a vereador e nem mesmo dentro do PT o nome de Tuninho é unânime. Um dos caciques do PT no estado do RJ, André Ceciliano, por exemplo, é próximo do grupo da Situação.
Aluisio Gama
Vindo do passado, o ex-prefeito Aluisio Gama reapareceu na cidade tentando construir uma pré-candidatura. A despeito de ele e sua mulher, Sheila Gama, já terem sido prefeitos, não contam com um grupo político na cidade. O ex-pedetista, sequer conseguiu controlar seu ex-partido no município e está no PSB.
Seus pontos favoráveis são a experiência, a eloquência e desenvoltura. Mas é muito pouco para uma competição tão dura. Além disso, foi prefeito em um passado remoto e até a sua imagem de candidato seria difícil de construir, pois o eleitor quer a representação do futuro e não do que já passou.
Iza Dutra
O partido Novo, por sua vez, pretende lançar como candidata a policial militar Iza Dutra. Para compensar a pouca estrutura, seu grupo tenta construir sua candidatura no vácuo deixado pela ausência do bolsonarismo na disputa. Mas a pré-candidata terá dificuldades de se tornar conhecida e transmitir sua mensagem, o que demanda dinheiro, muitos candidatos aliados à Câmara Municipal e estrutura.
Leonardo Mazutti
O partido Rede Sustentabilidade apresenta a pré-candidatura do advogado Leonardo Mazutti, cujas dificuldades se assemelham às da candidata do Novo.
PRIMEIRA PESQUISA
No dia 19 de junho foi divulgada pesquisa do instituto Quaest que foi a campo indagar sobre a preferência do eleitor em um cenário limitado. A pesquisa apresentou apenas os nomes de Tuninho da Padaria, Clébio Jacaré e Dudu Reina, deixando de fora os pré-candidatos Aluisio Gama, Iza Dutra e Leonardo Mazutti.
Isso já seria suficiente para não levar a pesquisa muito a sério. É até difícil imaginar que algo assim seria um erro. Trata-se vício grave, pois não está analisando o cenário real. O Quaest não disponibilizou no site do TSE o relatório completo do resultado da pesquisa.
O instituto, dirigido por um engajado petista, é conhecido por errar muito. Para ficar em apenas um exemplo, na véspera do primeiro turno em 2022, dava Bolsonaro 11 pontos atrás de Lula, e Ciro Gomes na frente de Simone Tebet. Bolsonaro ficou apenas 5 pontos atrás do petista e Tebet venceu Ciro na disputa pelo 3° lugar.
NÚMEROS DA PESQUISA QUAEST
Para a eleição iguaçuana, a pesquisa apresenta, no cenário estimulado, os seguintes números: Jacaré com 18%, Tuninho da Padaria também com 18% e Dudu Reina com 13%.
O que melhor pode se aproveitar da pesquisa é o cenário espontâneo, quando não são apresentados nomes ao eleitor, pois nesse caso a ausência dos outros pré-candidatos não atrapalhou a pesquisa. E, neste caso, Dudu Reina tem 3% das intenções de voto, enquanto a soma dos demais candidatos citados é de 5% e 2% disseram que vão anular. Já o número de indecisos é gigantesco: 90%.
Em um hipotético segundo turno, Tuninho da Padaria aparece com 33% das intenções de voto, enquanto Jacaré tem 25%. Branco, nulo ou que não pretende votar somam 35% e 7% estão indecisos.
Em outro cenário, Dudu Reina aparece com 34% e Clébio Jacaré, 25%. Os mesmos 35% dizem que votam branco, nulo ou que não desejam votar. 6% estão indecisos.
Estranhamente, o cenário entre Tuninho da Padaria contra Dudu Reina em segundo turno não foi pesquisado. A pesquisa também não apresentou a rejeição aos nomes incluídos na pesquisa.
O Quaest ouviu 708 eleitores entre os dias 14 e 16 de junho. A pesquisa está registrada na Justiça Eleitoral sob o número RJ-08487/2024.
CONCLUSÃO DA ANÁLISE
Se formos considerar a pesquisa como coisa séria, ela se apresenta muito positiva para o candidato da Situação. Dudu Reina é ainda consideravelmente desconhecido da maior parte do eleitorado, enquanto Tuninho da Padaria já está na política há muito mais tempo e Clébio Jacaré já está em pré campanha há meses. Por isso, não era difícil prever que o candidato da União Brasil estaria em primeiro lugar neste momento.
Porém, a diferença competitiva entre o candidato da Situação e os demais é desproporcional. E, seguramente, quando colocar o bloco na rua, o nome de Dudu Reina chegará com folga a mais eleitores que o dos demais. Considerando um contingente de 90% de indecisos, é algo bastante promissor para quem tem uma capacidade competitiva muito maior.
É como um jogo de futebol entre o Real Madrid e times modestos. Os outros times podem vencer, podem acreditar, podem lutar, mas o êxito é bastante improvável. E, provavelmente, a candidatura da Situação terá um poder de fogo incomparavelmente maior que o de seus adversários.
Mantendo-se o cenário atual, se o grupo da Situação fizer o “feijão com arroz”, é bastante improvável uma derrota na eleição de 2024 e Dudu Reina substituirá Rogério Lisboa na cadeira de prefeito municipal.