O jogador Didi, ídolo do Fluminense, do Botafogo e da seleção brasileira definia craque como aquele jogador que enxerga o jogo dentro do campo como se o estivesse vendo na arquibancada. Essa também poderia ser a definição de estadista: aquele que enxerga com clarividência a quadra histórica que vive e o papel que pode ter (ou que tem) nela.
Esse tipo de visão não é para qualquer um. Na política, craques são raros. Raríssimos. Há muitos jogadores medianos e outros que são pernas de pau. Aliás, por falar em político perna de pau, o maior de todos que já conheci foi o ex-governador Wilson Witzel.
Independente das acusações que sofreu, se analisarmos apenas politicamente a sua atuação, constatamos um incrível caso de inabilidade e miopia política. Ele não fazia a menor ideia do que representava e o momento histórico que vivia.
Mas o assunto aqui não é o ex-governador, mas o atual. O governador republicano número 64 do Rio de Janeiro: Claudio Castro. Se considerarmos todo o período independente do Brasil, Castro é o 131° governante da antes província e agora estado do Rio de Janeiro. Ocupa a cadeira que já foi ocupada por ninguém mais, ninguém menos, que o Visconde de Uruguai, o pai do conservadorismo brasileiro.
Cito o Visconde do Uruguai para chamar a atenção para a quadra histórica em que Claudio Castro chega ao Palácio Guanabara que é essa renascença conservadora do Brasil que vemos nos últimos anos. Claudio Castro, possivelmente, é um dos poucos políticos fluminenses conscientes do que é o conservadorismo e do seu próprio conservadorismo.
Suspeito que sob esse ponto de vista ele esteja consciente. Mas há outro que eu duvido bastante que ele enxergue. Não que eu subestime o governador, mas, francamente, acho muito improvável que ele tenha se dado conta disso. Talvez ele sinta isso inconscientemente, tocado por Deus, mas consciência ele ainda não tem.
A ascensão de Claudio Castro é algo miraculoso. Absolutamente improvável, sobretudo por ser um político católico. Nós, católicos, sabemos a dificuldade que a boa política enfrenta no seio da Igreja.
Primeiro porque a Igreja não tem posições oficiais sobre a política, o que é correto, mas que cria uma dificuldade para a organização política dos católicos. Segundo que a Igreja foi invadida e tomada – com a conivência de parte do clero – por políticos revolucionários de esquerda.
A relação da Igreja Católica no Brasil com o Estado é das mais conturbadas. Ao contrário do que pensa o senso comum, o período do Estado confessional foi terrível para a Igreja. O advento da República – não pela República em si, mas pelo fim do Padroado – foi um alívio. Mas a verdade é que nunca nos encontramos e acabamos sendo contaminados por um terrível vírus político que penetrou na Igreja.
Não sei se Claudio Castro é vaidoso. Um católico não deveria ser ou deveria lutar contra a vaidade. Se ele for bem sucedido na luta contra esse vício espiritual, poderá enxergar que foi Deus quem o colocou na cadeira de governador. Não por seus belos olhos ou por alguma genialidade política. Mas por ser cristão, por ser católico.
É um milagre, repito. É um milagre um católico eleito com dez mil votos para vereador se tornar governador do segundo estado do Brasil no espaço de cinco anos, sobretudo em uma realidade em que alguém eleger-se a qualquer coisa com a bandeira católica é dificílimo e raro. Castro deveria procurar o sacrário e perguntar: Senhor, o que queres de mim?
Não acredito que Claudio Castro lerá esse texto, mas caso pudesse falar com ele, eu sugeriria ao governador que fosse rezar diante do Santíssimo da Igreja de Santa Ana, onde está o túmulo do Cardeal Leme. Deus começará a respondê-lo, pela intercessão e pelos méritos do Cardeal Leme, cuja Carta Pastoral de 1916 deveria tornar-se o livro de cabeceira do governador.
Eu sou apenas um comentarista. O governador é um jogador e está em campo. Eu tenho a visão do alto das cabines de imprensa e digo para ele que daqui eu vejo se desenhar um jogo histórico se ele souber explorar as oportunidades que o time adversário está dando.
E os gols de placa que ele pode marcar são: trabalhar pela glória de Deus e da Igreja, dar testemunho da atuação católica na política e formar uma militância e novos quadros com o mesmo espírito para renovar e trazer a luz para a política fluminense.
Boa sorte ao governador. Que o testemunho de fidelidade e amor a Jesus Cristo dado por São Sebastião o guie e o inspire.