A falta de perspectiva histórica a respeito do fenômeno Bolsonaro na política brasileira nos atrapalha muito. O movimento conservador que renasceu nos últimos anos, e teve na eleição de Bolsonaro seu grande feito histórico até agora, ainda está na infância e luta contra outros grupos e movimentos políticos que já estão mais adiantados em tudo.
A estratégia é um dos aspectos mais sofríveis da nossa ação política. E falo em ação política aqui de forma eufemística, porque a rigor nem isso há. O que temos é apenas um líder que catalisa uma série de grupos sociais os mais diferentes (religiosos, militares, dentre outros), todos soltos e também politicamente desorganizados do ponto de vista estratégico-político.
Tudo recai sobre um homem. E homem algum é onipotente. Bolsonaro é presidente e isso já basta para a cabeça dele se ocupar. Todavia, não sei se por erro dele de não delegar ou por erros daqueles a quem ele tenha delegado, é claro que o sentimento conservador espalhado nos diversos grupos sociais está vagando pela noite escura sem qualquer rumo.
Não temos um partido e em nosso meio, inclusive, muitas pessoas odeiam a ideia de partido. Como se para ser partido precisasse ser como os outros. Mas essa falta de estrutura partidária que organize as bases arrebenta com o governo e com o presidente. Se tivéssemos pelo menos um movimento que fizesse as vezes do que deveria ser feito por um partido, já estaríamos muito adiantados.
Há coisas que não podem ser feitas pelas estruturas de governo. Às críticas aos problemas de comunicação já houve uma resposta institucional que melhorou bastante o quadro com a chegada de Fábio Faria ao Ministério das Comunicações. Mas não é dessa comunicação institucional que falo aqui neste artigo.
Minha indignação é com a falta de uma estrutura de comunicação partidária, de guerra política mesmo, para atacar os nosso adversários, para defender o presidente e as nossas pautas de maneira firme, dura, esclarecedora e direta com a sociedade, falando a língua do povo e utilizando todos os recursos que a linguagem nos permite.
O chamado Gabinete do Ódio, que nunca existiu, deveria existir. Não para destilar ódio como os oposicionistas sugerem que fazemos. Nós sequer temos esse know-how do ódio tão próprio dos nossos adversários. Mas para fazer luta na guerrilha das informações, combatendo as narrativas, estabelecendo as defesas e pulverizando as informações necessárias entre os nossos aliados.
Já disse acima e repito: não se trata de comunicar feitos do governo. Isso já fazem muito bem a SECOM, vários deputados e ministros e o próprio presidente. Trata-se de travar a guerra da comunicação contra a imprensa suja e contra os vis expedientes dos adversários.
Não é difícil. Pelo contrário: é simples resolver isso. Há muitos bons quadros bolsonaristas que já fazem isso de maneira espontânea, porém caótica, cada qual agindo segundo sua vontade e sua disponibilidade. É preciso delegar para alguém a coordenação dessas forças e investir recursos nessa briga. Nós estamos lutando contra grupos muito mais poderosos que nós.
Nossas únicas vantagens não decorrem de méritos nossos, mas de forças circunstanciais: a estrela do presidente, o fato de defendermos os valores da maioria do povo brasileiro e de estarmos do lado da verdade. Mas isso não basta. É preciso organização e coordenação dos esforços e dos talentos para vencermos a guerra da comunicação política em nosso país e permitirmos tanto o avanço do conservadorismo no Brasil, quanto para colaborarmos com a governabilidade do Presidente da República.
Alguém precisa tomar essa atitude. Ou o presidente ou alguém de sua confiança. É urgente que alguém tome uma iniciativa nesse sentido.