Em meio a um regime limitador das liberdades à moda do século 21 não é tarefa fácil saber como agir. O cenário político e institucional brasileiro tem cheiro de ditadura, comportamento de ditadura, mas para a massa ainda falta a cara de ditadura com a qual nos familiarizamos no século 20.
Não há tanques nas ruas, há policiais. As ordens arbitrárias não emanam do Executivo, mas do Judiciário, garantindo uma aparência de legitimidade. A repressão às opiniões se aplicam sobre aquelas que têm grande impacto e fazem barulho. No varejo, pode-se falar, até porque a mídia governista, muito mais forte, vence no contraponto.
Ao se expor ao arbítrio, o deputado federal Hélio Lopes, proporcionou ao Brasil e ao mundo mais uma oportunidade de contemplar a ação repressora do regime. Hélio Bolsonaro é um parlamentar de atuação fiel ao conservadorismo, porém sempre discreta, como é de seu temperamento. Sua iniciativa reveste-se de ainda mais grandeza considerando a renúncia ao seu modo próprio de atuação.
Acompanhar em tempo real a impressionante, ligeira e desproporcional reação do Regime Moraes à presença de um parlamentar em silêncio em um logradouro público nos proporcionou uma experiência nítida do tamanho da encrenca em que o Brasil se meteu.
Mesmo com a boca vedada por uma fita e apenas munido da Constituição e das Sagradas Escrituras, a presença do deputado foi vista como barulhenta pelo ministro que, segundo informações, está na Itália. E, mesmo distante, se incomodou a ponto de, sem ser provocado por ninguém, agir de ofício no âmbito do chamado inquérito das fake news, que nenhum nexo tem com o fato ocorrido na tarde/noite desta sexta-feira.
Sabiamente, o deputado deixou a praça após ser informado da decisão pelo governador Ibaneis Rocha, que foi obrigado por Moraes a tomar providências. O rei já estava desnudado e não havia mais nada a fazer ali.
Agora, além de um deputado federal e um senador praticamente asilados nos EUA por conta das ações de Moraes, temos mais um avanço do Judiciário sobre o Legislativo: a proibição da permanência de um deputado em protesto silencioso na Praça dos Três Poderes. Além disso, rasgaram-se diversas garantias constitucionais mais uma vez.
Parabéns ao deputado Hélio Lopes pela iniciativa, pela coragem de abrir mão de seu próprio perfil de atuação e se expor ao risco de ser perseguido.
Diante de tantos outros políticos que devem tudo a Bolsonaro e nada têm feito, Hélio Bolsonaro deixou claro neste ato de amor ao Brasil e à causa conservadora o porquê de ser chamado de irmão pelo ex-presidente e ter sido o escolhido pelo próprio Bolsonaro como o ocupante de sua cadeira na Câmara dos Deputados. Não à toa, Bolsonaro declarou abertamente seu voto em Hélio Negão nas últimas duas eleições.
Lealdade não se improvisa. Ou você é leal ou não é.