As páginas dos noticiários policiais da Baixada Fluminense contam histórias cada vez mais frequentes e assustadoras. O lar, que deveria ser o santuário da paz, muitas vezes tem se transformado no palco de crimes brutais: feminicídios, agressões contra crianças, abusos e conflitos que terminam em tragédia. Cada caso expõe uma ferida profunda no tecido social, revelando que, por trás de muitas portas fechadas, o caos, a falta de diálogo e a violência acabam virando rotina nas famílias em crise.
Quando a viatura da polícia chega, ela lida com a consequência, com o ato final de uma crise que, muito provavelmente, já vinha se anunciando há meses ou anos. O sistema judicial, por vezes, até pune o culpado, mas nenhum desses aparatos consegue retroceder o tempo para evitar a dor ou impedir que a próxima família se desfaça da mesma maneira. Reagir à violência é necessário, mas é uma estratégia incompleta e reativa. A verdadeira mudança, a única capaz de quebrar este ciclo vicioso, reside na prevenção. A questão que o poder público de Nova Iguaçu precisa responder é: estamos dispostos a intervir antes que seja tarde demais?
A resposta pode estar em uma metodologia criada, testada e com resultados comprovados na Inglaterra e que já foi implementada em cidades brasileiras: o “Strengthening Families Programme”, um programa de fortalecimento das famílias em crise.
Este não é um projeto inventado do zero, mas uma política pública estruturada, baseada em evidências, que visa equipar pais e filhos com as ferramentas necessárias para construir relacionamentos saudáveis e resilientes. O programa é desenhado especialmente para famílias com crianças e adolescentes, atuando justamente na fase em que os laços podem ser fortalecidos ou rompidos de vez.
O programa funciona por meio de encontros semanais, onde pais e filhos aprendem, separadamente e em conjunto, a aprimorar a comunicação, a estabelecer limites com afeto, a valorizar uns aos outros e a desenvolver estratégias para resolver conflitos sem agressividade. Para os pais, é uma oportunidade de aprender técnicas de disciplina positiva e de manejo do estresse. Para os filhos, é um espaço para desenvolverem autoestima, responsabilidade e a capacidade de resistir a pressões externas negativas, como o envolvimento com a criminalidade e as drogas.
Implementar este programa em Nova Iguaçu e nos municípios da Baixada seria uma declaração poderosa de que os gestores entendem onde a crise realmente começa. Seria o antídoto para o veneno da violência doméstica, oferecendo um caminho de esperança para famílias que sentem que estão perdendo o controle. Mais do que uma despesa, representa o investimento mais inteligente em segurança pública que se pode fazer, pois ataca a raiz do problema, e não apenas seus sintomas trágicos.
Não podemos mais nos contentar em apenas contar nossas vítimas. É preciso agir para que elas não existam. Ao adotar um programa ao qual famílias em dificuldade podem recorrer, Nova Iguaçu poderá começar a reescrever suas manchetes, trocando as histórias de dor e lares desfeitos por narrativas de superação, diálogo e resiliência. A força de uma cidade reside na força de suas famílias. É hora de socorrê-las.