Problemas existem para serem enfrentados e, então, serem diminuídos ou superados. As sociedades mais desenvolvidas não são as que têm menos problemas, mas as que os enfrentam com maior eficiência. Aliás, algumas sociedades desenvolvidas têm até mais problemas que outras, subdesenvolvidas e conformadas.
Israel e Japão, para ficar em dois exemplos notórios, possuem nações resilientes e eficientes diante das adversidades. É impensável imaginar um israelense olhando para um problema e dizendo: “ah, isso não tem jeito. Foi sempre assim” como você que está lendo costuma falar.
Mas israelense e japonês não têm nenhuma diferença para brasileiro. Eles têm cabeça, tronco e membros. Telencéfalo desenvolvido e polegar opositor. Nascem, crescem e morrem. Comem, bebem, vão ao banheiro. Creem ou não em Deus. Apaixonam e desapaixonam-se. Igualzinho a nós.
A diferença está apenas na decisão de tomar iniciativa diante de problemas reais. E isso é algo que depende só das vontades individuais que, somadas, transformam-se em força civilizacional.
A CULPA É SUA TAMBÉM
E se Nova Iguaçu tem muitos problemas, existe um que revolta os culpados: as enchentes. Sim, porque enchentes ocorrem há cinquenta anos ou mais. Desde quando a cidade deixou de ser rural e foi tomada por loteamentos mambembes. Muitos deles feitos pelos antepassados dos que hoje negligenciam a situação nos seus cargos políticos.
Mas as enchentes não têm vítimas. Somos todos cúmplices. Elas acontecem, destróem a vida de muitas famílias, depois vêm os paleativos, a solidariedade das igrejas e a omissão da sociedade, que continua preservando a indiferença dos políticos.
Eu nunca perdi um sapato em uma enchente. Sempre morei em áreas seguras. Mas, mesmo assim, não me conformo. Há aqueles que perderam ou viram famílias perderem e mesmo chegando à Câmara dos Vereadores, à Prefeitura, à ALERJ ou à Câmara dos Deputados, ignoram o problema.
O morador dessa cidade, você mesmo que está lendo, é igual a eles. Se você fosse eleito iria chegar lá e fazer a mesma coisa. Sabe por quê? Porque se acontece com o outro, dane-se. E se aconteceu contigo, já aconteceu mesmo, dane-se também.
Eis mais algumas enchentes, mas semana que vem ninguém lembra mais. A não ser que venham outras para um breve lamento: “ah, coitadas dessas famílias, vou doar um quilo de feijão”. E, depois, danem-se.
E sempre aparecem os caras de pau para colocar a culpa no povo que joga lixo nas ruas. Bueiros entupidos atrapalham, quem joga lixo na rua é porco e imundo, mas nem que todos os bueiros tivessem livres, nossa estrutura centenária daria conta de uma cidade que cresceu exponencialmente.
DINHEIRO TEM
A concessão do serviço de distribuição de água da Cedae recebeu bilhões que foram distribuídos aos municípios, inclusive Nova Iguaçu. Algum plano relevante para a prevenção de enchentes? Nada. Apenas meia dúzia de casas desapropriadas e uns trechos de rios canalizados. Tudo para inglês ver, apenas. Nada resolvem e esse mês de janeiro está aí comprovando.
Dinheiro tem. Além de todo o dinheiro recebido do Governo Federal nos últimos anos e do dinheiro da Cedae, ainda tivemos aumento considerável de receita no orçamento anual. Muita perfumaria, recapeamentos de ruas com asfalto perfeito e para os problemas reais, muito pouco ou quase nada.
Culpa desse prefeito? Também. E do outro, do outro, do outro e, provavelmente, dos próximos. Por que não adianta mudar o prefeito se o povo é o mesmo que não cobrava antes. Os vereadores continuam os mesmos. Os deputados são os mesmos. Mesmo quando muda, são os mesmos.
Porque “o mesmo” é a atitude. Ou, melhor, a falta de atitude. 800 mil pessoas inertes. Salvo algumas poucas e honrosas exceções que confirmam a regra. Poucos indivíduos que protestam, denunciam e lutam com o pouco que têm em mãos como Adriano Naval, Alcy Mahioni, o pessoal do grupo “Um Novo Bairro” do Km32, algumas associações de moradores mais sérias e outros poucos que peço que me perdoem por não citá-los, dada a exiguidade de espaço.
BASTA!
Tudo isso porque nós todos não dizemos “basta. Acabou. Isso agora é nossa prioridade e nós vamos enfrenta-la”. Não é o desafio de um prefeito, de um político, de uma liderança ou de alguns moradores: é um desafio de todos e de cada um de nós. E não, não é preciso que você ou eu nos candidatemos a nada para isso. É preciso união e pressão.
Basta. Acabou. Isso agora é nossa prioridade e nós vamos enfrenta-la. Vamos?
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