A Proposta de Emenda à Constituição proposta por Erika Hilton (PSOL/SP) que pretende acabar com a escala de trabalho de 6 dias por um de folga (6X1) em terras brasileiras é uma ideia que, por ela mesmo, nem mereceria nossa atenção. Trata-se de um assunto do século passado, desconectado com o mundo do trabalho do nosso tempo e que, uma vez aprovada, só promoveria desemprego e fechamento em massa de micros e pequenas empresas.
NÃO É A ECONOMIA, ESTÚPIDO
Por isso mesmo, qualquer agente político fora do campo socialista/comunista/progressista deveria ignorar ou debochar do assunto publicamente. Contudo, o que está em jogo nessa operação gigantesca que a esquerda, através de seus múltiplos meios de ação, promoveu de uma semana para cá não é uma questão trabalhista ou econômica. E, lamentavelmente, tanto a direita quanto o centro político no Brasil não estão qualificados intelectualmente para enxergar as coisas além da coisa em si.
E, como sempre, caem na armadilha da esquerda.
ENXERGUEM A CONJUNTURA!
O ex-meio campista Didi, da seleção brasileira e do Fluminense, dizia que craque é aquele que enxerga o jogo dentro de campo como se estivesse na arquibancada. Na política não é diferente. O estadista é aquele que enxerga o jogo com o distanciamento necessário para compreendê-lo mesmo estando dentro de campo.
A fenômeno da reação conservadora deu a sua maior prova de força no século 21 na madrugada da quarta-feira, dia 06 de novembro. Donald Trump venceu novamente as eleições americanas em mais um capítulo da reação planetária contra a agenda woke, aquela que a esquerda mundial, patrocinada por bilionários, colocou no lugar da agenda trabalhista.
RECUO ESTRATÉGICO
O “wokismo” continua demonstrando todo seu potencial de fortalecer o fenômeno conservador e o que acontece de repente? Surge a proposta de Erika Hilton, parlamentar transexual, com uma proposta trabalhista, em tese, muito generosa com a classe trabalhadora. Wokismo + Trabalhismo, com uma proposta com aparência de muito boazinha, para redimir a agenda rejeitada e retomar um discurso supostamente a favor dos vulneráveis. Não é muita coincidência?
Alías, já há outra proposta dessa natureza na Câmara dos Deputados, de autoria de um deputado petista. Mas, tentar dar prosseguimento a ela estragaria a brincadeira. Não teria pressão sobre parlamentares para assinar, polêmicas em torno do assunto e a autoria não seria de Erika Hilton.
A propósito, por que não foi feito todo esse barulho quando o deputado petista Reginaldo Lopes fez a proposta em 2019? Só não enxerga quem não quer.
A ESQUERDA ABRIU A CAIXA DE FERRAMENTAS
Mas a harmonia das ações foi impressionante. Bastou Erika Hilton surgir com o assunto para, em seguida, toda a militância das redações, da cultura e do escambau começa a falar em massa sobre ele. É 6×1 pra lá, é 4×3 pra cá, é 5×2 pra acolá. Parece tabela de resultados de algum campeonato. E até tem algo a ver. Porque aí não está uma questão trabalhista ou econômica como já falei: é disputa política e das grandes.
É A POLÍTICA, ESTÚPIDO
Podemos afirmar que, por enquanto, a vitória está sendo de goleada. A esquerda conseguiu pautar o debate no 6×1 e, tal qual carneirinhos, muitos de nossos parlamentares de direita foram caindo, um a um, em fila, tal qual estivessem indo para o matadouro. Não enxergam o jogo da arquibancada e não pensam para agir. Pior: não há uma coordenação estratégica que oriente parlamentares e a militância de direita. Se ela existisse, logicamente. Embora ainda confundam eleitorado e apoiadores com militantes.
Vai ser sempre assim enquanto o centro e a direita do Brasil desprezarem a estratégia, a capacitação de quadros e o estudo da política. E eu não estou falando nenhuma novidade não. Olavo de Carvalho cansou de alertar para isso, ensinou o caminho, mas seu desaparecimento de cena vai fazendo com que suas lições comecem a ser esquecidas e desprezadas por quem lidera o campo conservador.