Quem conhece futebol sabe dessa história. Na década de 70, o Fluminense montou um elenco que, certamente, era o melhor do mundo. Uma constelação de craques como Rivelino, Doval, Paulo Cesar Caju, Carlos Alberto Torres, Dirceu e companhia. Era um timaço. Só tinha um problema: em um tempo em que os campeonatos estaduais eram os mais importantes para os clubes, não havia competição. Perdeu a graça. As outras torcidas não iam mais ao estádio e isso era grave, pois era a bilheteria uma fonte de receitas importantíssima.
O então Presidente do Fluminense Francisco Horta promoveu uma troca desigual com outros clubes, cedendo-lhes alguns de seus grandes craques e recebendo em troca jogadores menos valiosos. É claro que isso prejudicou o Fluminense, mas salvou o futebol carioca na ocasião. De que adiantaria um Fluminense invencível se os outros clubes quebrassem e, praticamente, deixassem de ser adversários?
O atual momento do futebol brasileiro começa a reviver o que aconteceu com o Fluminense e o futebol carioca há quarenta e tantos anos atrás, mas em outra ordem de grandeza, capaz de aniquilar para sempre a atratividade do futebol brasileiro.
O êxito rubro-negro é o resultado, sobretudo, de um pacto entre o clube e a TV Globo que em tudo nos faz lembrar o fenômeno JBS, o frigorífico goiano que quebrou a indústria da carne no país para concentrar em um só grupo toda a produção e distribuição de proteína animal do país, produzindo a maior empresa mundial do setor, em prejuízo dos interesses do consumidor brasileiro que, como contribuinte, patrocinou esse processo via BNDES e crédito subsidiado.
Valerá a pena para o futebol brasileiro anabolizar artificialmente um ou dois clubes destruindo assim outros dez que, juntos com esses dois criaram a maior fábrica de talentos da história do esporte no mundo, fazendo do Brasil o maior vitorioso no esporte mais popular do planeta?
Se em um primeiro momento os rubro-negros têm justos motivos para comemorar e se emocionar, pois estamos ainda em um processo em que saímos do ambiente competitivo para o futuro do time único, em breve o desinteresse pelo futebol e pelos êxitos do Flamengo mostrarão até aos vitoriosos que não vale de nada ser vencedor ganhando competições de mentira. Os campeonatos no Brasil vão virar disputas do Real Madrid contra o Canto do Rio, São Christóvão e Bonsucesso.
Se as vitórias rubro-negras de 2019 fossem simplesmente o efeito de uma disputa entre clubes grandes, médios e pequenos como qualquer campeonato de primeira divisão do mundo, estaria tudo certo. Mas não é isso. É a criação artificial de um time “hors concours” e a destruição de todos aqueles que deveriam competir.
Não se trata de negar as potencialidades flamengas. O Clube de Regatas do Flamengo tem o maior contingente torcedor do Brasil, é o clube que, via de regra, dá mais audiência à TV, é uma marca valiosa, melhorou consideravelmente a sua governança nesta década e tem todas as condições de ser o clube com maior receita do país espontaneamente, sem precisar de um pacto à moda JBS que subsidie a destruição do ambiente esportivo nacional.
Se este alerta está vindo de um torcedor do Fluminense que confessadamente detesta assistir vitórias vascaínas, botafoguenses ou rubro-negras, este diagnóstico não tem relação com a rivalidade, exceto por querer mantê-la viva. Perder e ganhar é do jogo. Mas, as competições só têm graça e as vitórias só são legítimas quando há algum equilíbrio entre os competidores.
Não espero despertar as consciências rubro-negras, nem me dirijo a elas neste artigo. A clarividência de um Francisco Horta não é coisa comum. O torcedor rubro-negro – seja ele o comum dos homens ou o dirigente – quer é colecionar vitórias como um viciado em drogas quer viver momentos de euforia fugaz, sem pensar nas consequências. No futuro a euforia não virá mais. Que graça haverá se os Fla-Flus (ou qualquer outro jogo) não forem um “Ai, Jesus!”?
Aos demais clubes brasileiros há dois caminhos: cada um deles pode alimentar a crença de que será ele o antagonista rubro-negro que revezará no topo com o Flamengo ou, então, formar uma maioria com outros clubes para encarar o problema de frente, abrindo mão se preciso for da receita de TV por uma temporada a fim de impedir a transmissão de seus jogos e, consequentemente, dos jogos do Flamengo.
Não acredito nesta unidade. Se os clubes brasileiros não resistiram ao golpe da Lei Pelé, não será a esta conjuntura que reagirão. O futebol brasileiro vive seus últimos momentos e os flamenguistas poderão aproveitá-los euforicamente até onde a fantasia conseguir enganá-los. Como teria dito o Rei Pirro após vencer os romanos: “outra vitória como esta e estaremos perdidos”.
Para começar, uma vitória de Pirro é aquela em que os vencedores perdem tantos soldados mortos que ela na realidade é uma derrota! Não identifico isso nas vitórias do Flamengo e ele não é imbatível(Lembre o 4×4 com o Botafogo) e apenas está em uma fase excelente! Sugiro que após a conquista ou não do Mundial, o técnico Jesus venha a ser contratado pela seleção brasileira!