Quase um ano após o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, anunciar Lula como o eleito à Presidência, já é hora dos conservadores debaterem, sem paixão, o futuro da Direita no Brasil.
A desconfiança sobre o processo eleitoral gerou um desânimo com a política. Com ele, a falsa ideia de que não adianta lutar, porque o processo estaria viciado.
Partindo ou não da premissa de que não há esperança eleitoral, a luta não pode cessar. Primeiro porque há que se considerar que a realidade desmente sobre a inviabilidade de vitórias eleitorais conservadoras. Basta verificar que, por exemplo, elegemos o governador de São Paulo e de Santa Catarina, muitos senadores e uma bancada conservadora na Câmara. Aliás, é essa bancada que impede, até agora, o avanço de Lula sobre temas sensíveis.
Mas, ainda que se considere a visão extrema de que não venceremos eleições nunca mais, é preciso lembrar que a atuação no campo político-cultural deve continuar. Aliás, por mais que se tenha repetido e ensinado ao longo da última década que a luta política é antes na sociedade que nas eleições, o apoiador da Direita ainda não conseguiu internalizar esse aprendizado.
ELEIÇÃO MUNICIPAL DE 2024
Com ou sem vitória nas eleições presidenciais de 2026, teremos de não apenas manter, mas ampliar nossa base no Congresso Nacional. A presença conservadora no Parlamento é uma forma de prevenção contra o caos. Contudo, isso não acontecerá sem um bom desempenho no processo eleitoral de 2024. E por bom desempenho não se entenda apenas ganhar eleições.
Onde ocorrer a organização dos movimentos de Direita em busca da vitória eleitoral em 2024, isso já será uma vitória em si. Como ainda não temos partidos realmente nossos, a política conservadora deverá antes ocorrer nos movimentos e associações privados de iniciativa popular.
Devemos, antes de mais nada, ver a eleição municipal como vetor de organização, coesão, interação e aprendizado para os conservadores. Embora as pessoas comuns não consigam visualizar avanço nisso, não tenham dúvida de que a organização popular é de importância similar à de uma vitória para a Presidência, mas seus efeitos são ainda mais amplos.
AMADURECIMENTO POLÍTICO
Conforme já tratamos em outro artigo, até hoje a atuação da Direita brasileira tem sido apenas reativa. Não temos um projeto de nação claro, não temos políticas públicas bem definidas a propor, ainda somos um deserto de propostas. Tudo o que temos são os valores, sem aplicação prática.
A atuação conservadora surgiu forte a partir de 2013 no Brasil para evitar a ampliação dos estragos promovidos pelo PT. Mas, os problemas reais do Brasil que o petismo enfrentava com suas ideias erradas continuam na vida dos brasileiros. E, além de impedir que o partido de Lula piore a situação com remédios errados, precisamos apresentar o caminho certo.
LIDERANÇAS DO MUNDO REAL
Apesar de termos tido bons desempenhos eleitorais no últimos anos, nossas lideranças são muito limitadas. Não pretendo com isso ofender ninguém, muito menos jogar o bebê fora junto com a água suja do banho, como se diz no ditado. Contudo, não podemos negar que temos uma maioria de lideranças que só sabe atuar na internet.
Os deputados de Direita já são chamados – com razão e pela própria Direita – de “deputags”, em referência às “tags” das postagens nas redes sociais. Mas, o eleitor que votou neles são pessoas no mundo real, com problemas do mundo real. E logo logo se cansarão e buscarão lideranças do mundo real fora da Direita se não as encontrarem no campo conservador.
Os “deputags” são a síntese da surgimento da nova Direita brasileira e da sua limitação. Agem apenas no limite da reação aos malfeitos e aos escândalos da Esquerda e têm dificuldades de executar algo novo e útil para o mundo real.
PROBLEMAS BÁSICOS A SUPERAR
Temos alguns problemas básicos a superar para construir o futuro da Direita: a descrença na política como meio de avanço, o desprezo das nossas lideranças pelo mundo real, a descrença de todos na estratégia como instrumento de orientação para o exercício da política.
Precisamos de organização, inteligência, formação política , planejamento, projetos e estratégia. Mas nossas lideranças desprezam isso, só pensam nos likes.
Não esperem, portanto, uma unidade nessa organização, porque ela não virá. Não há, nem haverá tão cedo na Direita uma coordenação feita pelos políticos de mandato. Até porque nenhum tem estrutura, experiência ou formação para tal.
O FUTURO DA DIREITA
O futuro da Direita está, portanto, no povo. É hora da organização popular conservadora. Será dessa organização que saírão os líderes do futuro.
Os políticos de Direita que continuarem no mundo virtual, cairão, inevitavelmente, em 2024 ou em 2026. Aqueles que acordarem a tempo, poderão sobreviver. Mas o cidadão brasileiro não pode mais esperar e deve se organizar para escolher líderes reais para um mundo real. Líderes não apenas para cargos eletivos, mas para todos os outros espaços da sociedade. Não pode haver espaço em que a Direita não esteja pronta para, democraticamente, pleitear a direção dos rumos das instituições públicas ou privadas.
Para isso é preciso se organizar de baixo pra cima. Como tem sido desde 2013.