É possível (e até provável) que a terceira vitória eleitoral de Rogério Lisboa para a Prefeitura de Nova Iguaçu ocorra ainda neste dia 06 de outubro. E, se por alguma surpresa assim não for, ela virá inexoravelmente em um improvável segundo turno.
Apesar de dois mandatos apagados, com alguns feitos isolados e com resultados muito ruins para a economia iguaçuana, Lisboa teve a habilidade de aproveitar aquilo que o favorecia. Apesar do baixo desempenho administrativo, o atual prefeito conseguiu potencializar as vantagens políticas que as circunstâncias lhe proporcionaram. A começar com o legado recebido de seu antecessor.
EMPRÉSTIMOS E AUMENTO DE IMPOSTO
Nelson Bornier deixou duas ou três folhas de pagamento sem pagar após um mandato prejudicado pela maior recessão de nossa História provocada pelo trágico Governo Dilma. As dificuldades de Bornier pavimentaram o caminho para a vitória de Rogério. E as folhas de pagamento atrasadas do antecessor, que couberam à gestão Lisboa pagar, serviram como a principal bandeira de seus mandatos. Até hoje se fala nisso.
Mas, já naquela ocasião, a sorte começou a sorrir para Lisboa. Ao tomar posse em 2017, Dilma já estava afastada e a economia começou a se recuperar. Pagar as folhas de pagamento foi uma questão de tempo. Com uma Câmara Municipal reduzida a 17 cadeiras por seu antecessor (mais um golpe de sorte), Rogério conseguiu aumentar a alíquota do ITBI e contrair diversos empréstimos, ampliando o endividamento do município.
Com isso, governou durante os quatro primeiros anos colhendo os méritos de ter resolvido a insolvência do caixa municipal. Como os eleitores não conhecem a situação fiscal da Prefeitura, apenas o lado bom da história apareceu. Mérito dele em saber lidar politicamente com isso.
Nem mesmo a “vitória” isolada sobre os outros quase 6 mil municípios brasileiros em 2019 no campeonato brasileiro de desemprego foi suficiente para barrar sua reeleição em 2020. Rogério e seu partido, o PP, construíram um cenário político-eleitoral que proporcionou uma vitória tranquila, sem qualquer chance para os adversários.
Além disso, sua habilidade política também construiu uma alteração na Lei Orgânica, que reduziu de 17 para 11 o número de vereadores. Parece inacreditável, mas os vereadores caíram nessa novamente e alguns deram adeus à Câmara. Dos 11 vitoriosos nas urnas em 2020, dez foram eleitos pela aliança que reelegeu Rogério Lisboa. Com isso, no segundo mandato, o prefeito navegou em mar de almirante.
GRANDES LÍDERES LOCAIS SAÍRAM DE CENA
Mas a sorte seguiu sorrindo para Lisboa. As lideranças políticas municipais relevantes começaram a sair do cenário. Às voltas com a impopularidade do PT e os efeitos da Lava Jato, Lindbergh Farias precisou se afastar da política local para juntar os cacos. Outro cacique da política iguaçuana, Nelson Bornier, faleceu em 2021.
O único nome de expressão que restou na política da cidade, além de Rogério, foi o deputado federal Dr. Luizinho que, para a sorte de Rogério Lisboa, não alimenta sonhos de governar Nova Iguaçu. Isso permitiu que Luizinho se tornasse um aliado forte e quase um segundo prefeito, garantindo realizações como a reforma e reabertura do prédio do antigo Hospital de Iguaçu, para onde a administração municipal transferiu parte das atividades da Maternidade Mariana Bulhões.
PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES
Um mérito inegável deste mandato foi o programa Segurança Presente. Muito embora a sensação de segurança não tenha melhorado, é uma evidente demonstração de esforço municipal neste aspecto que, na ponta do lápis, nem é responsabilidade do prefeito. Além disso, Lisboa tirou a guarda municipal do papel, apesar de o número de agentes não ser nem de longe suficiente para suprir as demandas. Contudo, é um começo.
Na Cultura também houve avanços inequívocos e pouco comuns para uma cidade da Baixada. A dupla Miguel Ribeiro e Marcus Monteiro comandando, respectivamente, Fenig e Secretaria de Cultura, fizeram bons trabalhos.
A MAIOR DE TODAS AS SORTES DE ROGÉRIO LISBOA
E apesar de uma gestão precisar de muito mais do que isso para ser chamada de boa e almejar uma re-reeleição, a sorte continuou sorrindo para o alcaide. E, talvez, tenha sido essa a maior de todas as sortes que teve nesses oito anos. Rogério não teve adversários competitivos durante a busca do terceiro mandato. Aliás, o principal deles (na prática, o único), Clébio Jacaré, foi um adversário dos sonhos.
Com recursos à disposição e uma incrível vontade de se eleger, Jacaré não poupou esforços para construir uma candidatura competitiva. Com isso, captou praticamente todos os melhores candidatos a vereador que não estavam com o governismo, impedindo que adversários competitivos construíssem alternativas viáveis à candidatura governista.
E por que Jacaré, mesmo com todo esse esforço, foi o adversário dos sonhos, você pode estar se perguntando. A resposta é simples: você pode ter bons ingredientes e uma grande vontade de fazer um bolo delicioso, mas se você não sabe fazer bolo e não tem a humildade de ouvir quem sabe, o bolo vai solar. E o bolo do candidato Jacaré solou, enquanto o de Rogério, mesmo sem gosto, assou corretamente. Mais uma vez.
Resumidamente, foi assim que Rogério Martins Lisboa conseguiu driblar suas fraquezas e potencializar suas oportunidades. Sua re-reeleição através de uma pessoa de sua confiança, o vereador Eduardo Reina, é sobretudo uma vitória de habilidade política e não de êxito administrativo. Torçamos para que seu candidato eleito seja melhor gestor (e eu tenho esperanças que seja) e que tenha alguma liberdade para fazer Nova Iguaçu se desenvolver economicamente. Mas não vai ser fácil consertar o que aconteceu na nossa economia nos últimos oito anos. Boa sorte ao novo prefeito municipal da mais importante das cidades do mundo.