A explosão do crescimento demográfico e da expansão desordenada na ocupação do território iguaçuano nos últimos cinquenta anos é a causa da maioria dos nossos problemas. Poderíamos escrever livros e livros e ficar anos e anos falando das terríveis consequências da forma como a cidade foi conduzida no período. Um dos efeitos desse fenômeno é uma espécie de apartheid identitário que existe no município iguaçuano.
Quem é iguaçuano já percebeu isso em algum momento. A própria forma com que os moradores dos bairros mais periféricos se referem ao Centro do município denuncia essa situação. Quando uma moradora de Cabuçu fala que vai ao Centro comprar algo, diz: “vou a Nova Iguaçu fazer compras”. Muitos cidadãos não se sentem integrantes da imensa comunidade de Nova Iguaçu. Para eles Nova Iguaçu é aquela região central e não a cidade toda.
Uma pessoa que venha de fora e queira pegar um ônibus no bairro de Três Corações, por exemplo, ficará bastante confusa. O destino que aparece no letreiro do coletivo é NOVA IGUAÇU. Ora, se perguntará o visitante, eu já não estou em Nova Iguaçu?
A ação (ou a falta de ação) do poder público criou essa realidade. Politica e juridicamente somos um município só. Na prática somos estranhos uns aos outros. Há iguaçuanos que nunca foram a Tinguá, por exemplo. Há aqueles que moram no Centro e nunca foram Santa Rita, Corumbá ou Vila de Cava.
Jaceruba é tão Nova Iguaçu quanto o Caonze, quanto o Km32 ou quanto o Tinguazinho. A existência de uma coisa chamada município e outra chamada prefeitura deve servir para que a comunidade de pessoas que está naquele território se organize para se desenvolver junta, coletivamente.
A disparidade entre as diversas realidades exige que essa união observe a necessidade de socorrer mais a alguns do que a outros. A extrema pobreza deve ser o foco principal da próxima administração municipal.
Não podemos continuar tentando harmonizar no mesmo município diferenças tão grandes como a de um bairro da região de Austin com a do Centro de Nova Iguaçu. É uma viagem de 15 minutos em que transitamos do IDH do Haiti para o de Portugal.
Para isso o interesse público deve se sentar na cadeira de prefeito e fazer com que essa máquina bilionária chamada Prefeitura da Cidade de Nova Iguaçu seja um mecanismo de correção de distorções e não o principal criador de problemas de nossa cidade como sempre foi.
Mais do que mudar os nomes que comandam a cidade, é preciso mudar os métodos. E o diagnóstico já pode ser feito na campanha eleitoral. Quem coloca centenas de pessoas balançando bandeiras nas ruas de toda a cidade não terá condições de governar para o interesse público. Deverá prestar contas a quem pagou por essa campanha milionária.
Fazer de Nova Iguaçu uma cidade só começa, portanto, pela atitude dos senhores e senhoras eleitores. Avalie, debata, converse, se informe e vote com consciência. O voto é a sua principal colaboração para dias melhores.