A história sempre acontece diante dos nossos olhos. Mas nem sempre conseguimos enxerga-la. Neste ano de 2024, ela está dando pistas para que não percamos de vista o seu bonde. Dois acontecimentos deste ano nos trazem à percepção a mudança que vem ocorrendo na comunicação de massas.
Há cerca de cem anos o rádio chegou no Brasil, inaugurou a comunicação em larga escala e reinou soberano enquanto os brasileiros aprendiam a lidar com ele. Quando a experiência se consolidava, uma outra ventania apareceu: era a televisão. Esta se socorreu do privilégio de já contar com o que se aprendeu no rádio.
2024: PERDAS QUE SIMBOLIZAM NOVOS TEMPOS
Em 2024 perdemos os maiores talentos que eu, particularmente, conheci nessas mídias. Washington Rodrigues, o Apolinho, criativo radialista que nos deixou em maio. Agora em agosto nos despedimos do maior talento da comunicação brasileira, o rei da televisão, Silvio Santos.
Houve ainda quem tenha brilhado genialmente nas duas caixinhas. O exemplo mais notável, o Velho Guerreiro, Abelardo Barbosa, o Chacrinha, morto em 1988.
Mas dou-me a liberdade de destacar Velho Apolo e Senor Abravanel, que desapareceram quase juntos e que simbolizam os grandes momentos desses dois meios de comunicação.
(Em tempo: não quero fazer paralelos entre a obra de ambos. Isso nem seria possível. Não é isso que está em causa aqui.)
O que há em comum entre esses fenomenais homens de comunicação além da grande criatividade? Eles “estouraram” há muitas décadas. E nada surgiu de tão revolucionário depois deles. Isso é sinal de que, se o rádio e a TV seguirão existindo e servindo à sociedade (e seguirão sim), o auge de ambos ficou no passado e não se repetirá.
O QUE VIRÁ POR AÍ?
Se a TV brasileira se valeu da experiência do irmão mais velho, o rádio, a rede mundial de computadores se desenvolve com a vantagem de conhecer ambas. Mas, se isso ajuda seus produtores por um lado, gera um comodismo para a criatividade por outro. A internet é um imenso caldeirão de tentativas e de sucessos. Mas ainda não apareceu um Chacrinha ou um Apolinho ou um Sílvio Santos do entretenimento pela web. Há muito o que reproduzir nela que já foi feito no rádio e na TV. A necessidade de inovar ainda não surgiu.
É instigante sonhar com o que ainda pode vir. Há tantas coisas boas produzidas na internet, o que ainda pode ser melhor? Não sabemos. Como não sabíamos até aparecer o Chacrinha, o Apolinho, o Silvio e muitos outros. Como a herdeira da radionovela, a telenovela, que está para o Brasil como o teatro para ingleses e franceses, o cinema para os Estados Unidos ou ópera para os italianos. A telenovela é o grande produto da nossa dramaturgia.
O que a internet produzirá de incrivelmente novo para a comunicação? Esse é a história que está se desenrolando diante dos nossos olhos e que 2024, ao raptar nossos admiráveis Sílvio e Washington, grita para nos convidar a acompanhar.
Assistir a esta história é mais uma delícia que a internet nos proporcionará.