O Presidente Bolsonaro sustenta um princípio desde antes de sua candidatura, quando ela era apenas uma ideia, de que se não fosse para entrar e mudar o estado de coisas, era melhor não entrar. E resumia: eu quero governar o Brasil para as próximas gerações e não para as próximas eleições. Ele ainda age dentro deste princípio quando afirma que sequer pensa em concorrer à reeleição e até apoiaria o fim do instituto.
Porém, Bolsonaro precisa compreender que algumas reformas que defende desagradam a muitos dos donos do poder e o que o sustentará no comando do Estado brasileiro são as reformas em que esses donos do poder se dividem, uns a favor, outros contra.
A expectativa da aprovação da reforma da Previdência é hoje o principal alicerce do apoio que Bolsonaro recebe de parte do grande capital e dos setores conservadores e liberais da política. Mas em política devemos ter em mente que o apoio surge das expectativas e não da gratidão.
Uma vez aprovada a reforma da Previdência, que a é prioridade, virá a reforma da lei penal, por exemplo. Quando chegar a vez desta reforma, a balança do poder tende a pesar contra Bolsonaro. A despeito dos discursos contra a violência que vêm de todos os lados, o endurecimento da lei penal e dos instrumentos de investigação colocam boa parte do Brasil que manda em risco. É uma ruptura com um sistema que funciona desde há muito tempo na base do jeitinho, dos muitos recursos, das brechas da lei, da frágil estrutura investigatória do Estado. O que serão das grandes bancas de advogados, dos muitos amigos do poder e suas relações nada republicanas com o os inquilinos do poder político, dos próprios políticos que têm seu modo de fazer política e vencer eleições construído sobre práticas ilícitas, dos juízes que vendem sentenças e, enfim, dos grandes grupos criminosos cuja influência se espraia sobre todos os citados anteriormente? Com quem Bolsonaro, Moro, Guedes e todo o gabinete de governo podem contar na luta contra essa turma? Com um povo que não tem o hábito de entender o que importa na política e se deixa emprenhar facilmente pelo que é dito pelos donos do poder?
O primeiro risco político que enxergo para Bolsonaro é se a reforma da Previdência for aprovada integralmente logo esse ano. Conquistada essa batalha, Bolsonaro deixa de ter serventia para muitos grupos de poder. Por outro lado, se fatiar a reforma, Bolsonaro manterá sempre uma expectativa para essa parcela dos poderosos na questão previdenciária.
Há grande insistência por parte dos comentaristas políticos e econômicos de que é vital para Bolsonaro aprovar a reforma da Previdência de uma vez só. Discordo. A não ser que Bolsonaro crie outra grande expectativa para os mesmos “clientes”, eles não hesitarão a entrar no grupo adversário e ajudar a derruba-lo antes que ele mude o que eles não querem que mude depois de alterada as regras da aposentadoria integralmente. Esse é um dilema que eu enxergo no horizonte próximo do Presidente do Brasil.