É admirável que, terminada sua caminhada, possamos falar no exemplo de Dom Luiz. Não que ele não fosse sujeito de grandes virtudes, muito pelo contrário. É que a vida impôs a Dom Luiz Gastão de Orleans e Bragança uma missão que qualquer um consideraria inglória e desanimadora. A ele coube a chefiar a Casa Imperial de uma nação imersa no espírito revolucionário, quer positivista, quer liberal, quer socialista.
Como se isso não bastasse, a dificuldade de Dom Luiz se ampliava. Ele ainda deveria lutar em uma sociedade neopagã, sob olhares atravessados por ser um fervoroso servo de Jesus Cristo e de Sua Igreja
Tudo indicava para Luiz Gastão que era melhor ficar quieto no seu canto, tirando da sua condição de chefe da Casa Imperial no Brasil apenas as honrarias que o cenário hostil ainda não lhe havia subtraído. Mas, não. Morto seu pai em 1981, o príncipe imperial aceitou o destino que a Providência colocou diante dele e seguiu em frente.
ATUAÇÃO JUNTO À ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE
Dom Luiz reconquistou para os monarquistas brasileiros o direito de existir. Se de 1889 a 1988 fora lícito ser até comunista no Brasil, a defesa da causa monárquica fora vedada aos brasileiros no período. Foi a luta de Dom Luiz junto aos constituintes que devolveu a voz um considerável contingente de cidadãos. Graças a ele nos foi permitido pedir a restauração da monarquia.
E não foi apenas isso. Aos brasileiros também foi dado o direito de escolher a alternativa monárquica em 1993, no famoso plebiscito sobre a nossa forma de governo. É verdade que houve boicotes e covardias feitos contra a alternativa monárquica na ocasião. Mas saímos no espaço de cinco anos da proscrição à possibilidade de termos a monarquia restaurada como nossa forma de governo.
O MOVIMENTO MONÁRQUICO RENASCEU E FLORESCEU
Desde então o movimento monárquico cresceu. Foram dezenas de encontros monárquicos nacionais e milhares de eventos pelo país. E nunca faltou o apoio dos membros da Casa Imperial às iniciativas pela promoção da causa da restauração.
Há quem diga que era possível ter feito mais ou, ainda, que há problemas na atuação da Casa Imperial. Eu mesmo me filio a essas vozes críticas, mas isso não apaga os méritos do “reinado” de Dom Luiz.
A OBRA E O EXEMPLO DE DOM LUIZ
O juízo que devemos fazer sobre esses últimos 41 anos para a causa monárquica deve partir daquilo que éramos e que tínhamos antes do período “luiziano”. Também devemos considerar os muitos obstáculos que o espírito do tempo nos impuseram e continuam impondo. Dentro dessa perspectiva vemos a grandeza da atuação do príncipe que nos deixou nesta sexta-feira, 15 de julho.
Estou seguro de que, nos seus últimos instantes de lucidez, Dom Luiz tinha consciência do que estava por vir, resignado diante da vontade de Deus e em paz com o que fez com sua missão. Fez o que deveria ter feito sem se preocupar se o resultado viria.
Dom Luiz não buscava ser um imperador. O que ele queria era devolver o Brasil ao seu destino. Aquele destino interrompido pelo espírito revolucionário. Se sua obra devolveria a coroa a ele ou a um irmão ou, ainda, a um sobrinho, ou só caberá no futuro a um sobrinho neto ou sobrinho bisneto, não lhe importava.
Ele fez o que deveria ser feito. Esse é o grande exemplo de Dom Luiz para o Brasil. É o que falta aos homens e mulheres de bem desse país: aplicação aos valores sem condiciona-los à probabilidade de sucesso. Sem saber que era impossível, Dom Luiz foi lá e fez.