No final da década de 1940, um clube poliesportivo e social de um país agrário e desindustrializado da América do Sul recebeu o seguinte elogio público do Sr. Jules Rimet, o lendário presidente da FIFA: “é a maior organização esportiva do mundo”.
Se no Brasil de hoje, um país conectado com todo o mundo, inserido na economia de mercado, vivendo uma conjuntura em que o país figura de forma muito mais relevante no cenário econômico e esportivo mundial, se mesmo em nosso tempo seria difícil para um clube brasileiro alcançar esse status, imaginem os senhores naqueles tempos. Para orgulho dos tricolores, a maior organização esportiva do mundo era o Fluminense Football Club, tanto que naquela altura recebeu a “Coupe Olympique” do Comitê Olímpico Internacional.
Mas, o que levou o outrora gigantesco Fluminense a se tornar um clube que flertou com o fundo do poço na década de 1990, que conseguiu virar o jogo, vencer três títulos nacionais, ser duas vezes vice-campeão de competições sulamericanas, mas ainda assim continuar em um esforço incansável em busca da mediocridade? O que fez com que a maior organização esportiva do mundo tenha se convertido em um clube que dá a cadeira de presidente da instituição para figuras como Peter Siemsen e Mario Bittencourt, para ficar em apenas dois exemplos de uma longa série de terror iniciada há trinta anos?
Nascido no princípio da década de 1980, fui apresentado na infância a uma instituição grandiosa, glamourosa, gigantesca e que se orgulhava do seu status de clube de elite, não por uma soberba de classe, mas porque era dirigido mesmo por uma elite em sentido amplo. Era o Fluminense uma referência de excelência, bom gosto, fidalguia, compromisso em ser o melhor e com muita eficiência na conquista de resultados.
A impressão que temos é que desde a eleição de 1986 e a saída de Manoel Schwartz do comando do Fluminense, o clube fez um pacto pela mediocridade. Sempre com a justificativa da falta de dinheiro e do alto endividamento – que eram e continuam sendo verdades – os sucessivos dirigentes do clube cumpriram seus mandatos com resultados pífios e aumento da dívida, mesmo nos tempos do patrocínio da Unimed. Sim, porque a despeito do período Unimed ter resgatado o Fluminense do fundo do poço e garantido alguns títulos, os resultados foram proporcionalmente péssimos em relação ao montante investido, tendo algumas vezes lutado contra o rebaixamento, inclusive.
Após trinta e três anos de opção pela mediocridade e de luta incansável para destruição da marca Fluminense, o nosso clube social deixou de ser o que era e virou um Olaria da Zona Sul. Nos Esportes Olímpicos, nem sombra do que fomos outrora. E no futebol: rebaixamentos, perdas de grandes oportunidades, times ridículos, dezenas e dezenas de trocas de treinadores, aumento exponencial da dívida, muitas vergonhas, diminuição do contingente torcedor/consumidor e transformação da camisa tricolor em produto de baixo valor de mercado, sem condições de atrair bons contratos publicitários.
A opção pela mediocridade nos legou um arremedo de Fluminense. O que nos sobrou, se não apenas um contigente torcedor pequeno (o que os tricolores insistem em negar, como se negar mudasse a realidade) e uma história que nos orgulha? Dívidas, vergonhas, muitos recibos de otários que passamos por permitir que pessoas enriquecessem às custas do Fluminense ao mesmo tempo em que ouvíamos a conversa de que não havia dinheiro para investimentos.
Há luz no final do túnel? Não há. Não há porque não temos mais tricolores capazes de mudar essa realidade. O pequeno contingente torcedor que nos restou não possui nomes capazes de capitanear o resgate e a modernização do Fluminense. Temos um insanável problema de recursos humanos entre os tricolores. Chega de nos enganarmos: o sujeito em quem mais se depositou esperanças na história recente do clube, Peter Siemsen, foi o pior presidente em 117 anos do clube. Pior que Alvaro Barcelos e Gil Carneiro de Mendonça. Acreditar que algum dos que ora participam da política do Fluminense pode mudar o quadro é um equívoco equivalente ao que levou tantas pessoas a acreditarem em Peter Siemsen, vergonha que não carrego. E mesmo que apareça um nome capacitado, uma só andorinha não faz verão, não há gente suficiente para sustentá-lo politicamente e nem sequer para entender as ideias do bom dirigente do nosso tempo. A opção pela mediocridade não é um mal apenas dos dirigentes, mas também de grande parte dos associados.
Eu só não jogo a toalha porque sou um sujeito de fé, acredito em milagres e para Deus nada é impossível. A única saída é um milagre. Nossa obrigação não é mais apenas a de torcer pelo Fluminense, mas também de rezar pelo clube que amamos. Até aqui, a opção pela mediocridade venceu.
Excelente texto.
Nem mais uma vírgula a acrescentar.
Já venho escrevendo sobre isto em comentários no blog Jornalheiros do PC Filho.
O framengu vendeu Vinicius e Paquetá e usou o dinheiro pra investir em jogadores caros, alguns em fim de carreira ou eternos reservas na europa, mas que para o baixíssimo nível em que se encontra o futebol brasileiro, dá e sobra.
Investiu no Jesus, que não é treinador de top na europa, mas que é extremamente competente a nível de tática. Deu no que deu.
No Fluminense, é um show de egos e vaidades dos que estão no poder, e dos que querem chegar ao poder, o clube que se dane. Todas as semanas tem um ex-jogador ou ex-treinador cobrando dívida dos calotes que os dirigentes deram ao longo destes anos atrás. Os dirigentes conseguiram dar calote em verdadeira lendas do clube como Félix e Branco.
Vamos ver se o milagre aparece.
Abraço.