A recente polêmica envolvendo o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, é a ponta do iceberg do grande problema partidário do bolsonarismo. Valdemar afirmou que Lula é incomparavelmente mais popular que Bolsonaro e revoltou os apoiadores bolsonaristas do partido.
Eu digo que isso é a ponta do iceberg porque, por mais inofensiva que possa parecer, essa declaração é uma pista do grande problema oculto que o conservadorismo tem no Brasil. Ainda que Lula fosse o que Valdemar diz que é, tem cabimento o presidente do partido de Bolsonaro fazer um reconhecimento público ao principal adversário dos seus eleitores?
Alguém poderia imaginar a Gleisi Hoffmann fazendo um reconhecimento público de alguma virtude de Jair Bolsonaro?
DESCONEXÃO COM O BOLSONARISMO
A fala de Valdemar deixa clara a desconexão entre a liderança do Partido Liberal e seu eleitorado. E isso não é de se estranhar. O bolsonarismo está no partido, tal qual um inquilino está numa casa em que mora de aluguel. Considerando que os eleitores de Bolsonaro fizeram de um partido mediano o maior do país, seria razoável que o senhorio tivesse mais cuidado com os interesses de um inquilino que paga um aluguel tão alto.
Para as eleições municipais de 2024, o problema deve se ampliar. É possível e provável que o PL tenha um bom desempenho nas urnas, mas o bolsonarismo não. E como pode? Como pode o PL ir bem e o bolsonarismo não?
A explicação é simples. O DNA fisiológico do PL continua, apesar de abrigar uma força tão poderosa como é a nova Direita brasileira. O mau hábito do PL de negociar a legenda de “porteira fechada” para os amigos/aliados de seus caciques está sendo praticada nesse momento para a eleição de 2024.
E o que isso significa? Se o partido que os bolsonaristas transformaram no maior do Brasil, com a maior fatia do fundo partidário e do fundo eleitoral, estiver de “porteira fechada” em um município sob o comando de um não-bolsonarista, então o partido será organizado para atender ao interesse da liderança não-bolsonarista. E os conservadores ficarão a ver navios.
Com isso, o sonho de eleger prefeitos e vereadores alinhados ao modo Bolsonaro de governar será inviável para milhões de eleitores.
UM EXEMPLO EM NOVA IGUAÇU
E isso já ocorre, por exemplo, na minha cidade: Nova Iguaçu. As lideranças locais simpáticas a Jair Bolsonaro não terão o partido a seu serviço. O PL no município estará às ordens de um líder de outro partido que, obviamente, adotará uma estratégia para os interesses do seu grupo e não da expansão do bolsonarismo no município.
Foi precisamente por isso que o comando do PL municipal em Nova Iguaçu, apresentou renúncia aos cargos na Executiva. Os membros da Executiva se recusarão a participar da traição aos nossos apoiadores, filiados e lideranças conservadores interessados em concorrer ao cargo de vereador. Além disso, também não pretendem ver o partido a serviço de interesses alheios aos de seus eleitores.
Como está a ocorrer na minha cidade, também será assim em muitas e muitas outras. Em resumo: você eleitor do Bolsonaro que votou em deputados federais do PL na última eleição, fez do partido uma potência. Mas essa força não estará a serviço dos seus ideiais em milhares de municípios.
Os liderados que receberão o partido de porteira fechada dos caciques do PL não estão errados. Eles estão fazendo a política dele. Na política não tem bobo e eles estão no seu direito legítimo de fazer política como acham que devem.
Mas é inegável a traição dos caciques do PL à grande massa de conservadores que transformaram uma legenda medíocre em um partido gigantesco.
Tanto a fala de Valdemar, quanto essas negociações de “porteira fechada” são apenas alguns capítulos dessa obra lamentável de traição. Há muito, muito mais. Não estou falando de corrupção, que fique bem claro. E, inclusive, o problema que descrevo aqui tem solução, desde que o PL decida ser o partido do seu eleitorado e não de parte de seus caciques. Antes que seu eleitorado decida não ser mais PL.
Mas, por enquanto, a traição é indiscutível. E isso significa uma nova facada na Direita, tal qual a de Adélio Bispo em Jair Bolsonaro. É o establishment inviabilizando o crescimento do bolsonarismo por dentro.
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