Não quero ser acusado de querer ensinar o padre a rezar uma missa. Eu sei muito bem que Bolsonaro é um dos maiores líderes populares da nossa história recente. Sei que com sua maneira de ser e de se comunicar ele chegou à Presidência contra tudo e contra todos. Mas nada disso muda o fato de que qualquer um pode e deve melhorar.
Hoje na já tradicional live das quintas-feiras, aconteceu um episódio que é um exemplo perfeito para mostrar como Bolsonaro peca gravemente na comunicação.
Antes de entrar no exemplo, preciso dizer que nós que acompanhamos o governo de perto sabemos de tudo o que acontece de bom na máquina pública, dos bilhões desperdiçados que não vão mais pro ralo, de outros bilhões em privilégios que deixaram de irrigar certas corporações poderosas e muitas, muitas outras coisas como obras de infraestrutura, modernização da legislação, etc.
Mas não adianta nada ter um governo maravilhoso, que faz coisas importantes, complexas e que darão bons frutos nos próximos dez, vinte ou trinta anos, se não nos comunicamos de forma compreensível para um brasileiro comum sobre todos os assuntos.
E vale lembrar que o problema não está na comunicação institucional do governo. Eis aí um outro ponto em que vejo toda hora pessoas próximas do presidente batendo cabeça. Não é a comunicação institucional que vai mal: é a comunicação política. Só Bolsonaro a faz e, ainda assim, com as limitações pessoais e próprias da sua função de presidente.
Os parlamentares ligados ao presidente não sabem fazer e talvez nem saibam que isso existe. Além disso, Bolsonaro não tem um partido e o partido é o principal indutor desse processo de comunicação política. E também falta uma coordenação estratégica nesse caldeirão de vaidades que é o entorno político do presidente.
VAMOS AO QUE INTERESSA
Feitas as observações preliminares, vamos ao exemplo da live de hoje. A uma certa altura, Bolsonaro e Pedro Guimarães, presidente da Caixa, falaram do lucro da estatal. Os números são realmente impressionantes. A mim eles são capazes de impressionar e talvez a mais algumas pessoas que conseguem entender porque o lucro da Caixa aconteceu e qual a repercussão disso na vida do brasileiro. Mas para o povão aquilo é grego. A dona Maria e o Sr. João estão se lixando para os números frios do lucro da Caixa.
Os estratosféricos números e a dissonância entre os atuais e os dos tempos do petismo precisam ser traduzidos na linguagem do povo. Esse episódio é ótimo porque nele é fácil de mostrar a oportunidade perdida.
O que deveria ter sido dito ali e que poderia ter gerado um recorte maravilhoso de vídeo que iria viralizar no WhatsApp?
”Pedro, nós conseguimos esse lucro na Caixa porque nós mudamos o foco da instituição. Hoje ela trabalha para o povo. Ela fomenta o pequeno, o médio e o grande. Mas sobretudo os pequenos. E é essa a receita do sucesso.
O nosso governo trabalha pelos mais pobres e pelos que produzem. A Caixa vai dar cada vez mais lucro porque hoje ela não é mais para atender amigo de presidente, nem a quem financia campanha eleitoral, mas para financiar a casa do trabalhador, o negócio do pequeno empreendedor. E se depender de mim o lucro vai dobrar, porque nosso foco é quem mais precisa.
Fazendo a coisa certa nós atendemos quem realmente precisa de ajuda e quem dá lucro para a Caixa e não para os chupa-sangues ligados aos governos anteriores”.
A bola cruzou na área e o atacante estava livre para marcar. Dava até para fazer uma firula. Esse é o tipo de oportunidade que não se pode perder.
Mas não se trata de querer fazer um media training no meio do mandato com um presidente da República. De fato ele nem tem cabeça para pensar nisso. Mas alguém tem que pensar por ele. Alguém tem que fazer o que ele não pode fazer de outras formas.
É preciso transformar as informações dos feitos do governo em narrativa, em frases de efeito, em slogans, em comida nutritiva já amassada e pronta pro cidadão assimilar sem grandes dificuldades.
O cidadão está de saco cheio da política e de tudo que não consegue entender. Ele quer é solução. E se as soluções são complexas e estão acontecendo, é preciso fazer com que o povão entenda da forma que consegue entender.
Precisamos enfrentar esse desafio para comunicar a verdade, pois no lado inimigo, eles dominam completamente essa técnica e têm todas as ferramentas para comunicar as mentiras.