Quem acompanha de forma madura e desapaixonada o Presidente da República Jair Bolsonaro, seus discursos e atos de governo, consegue captar quais são as suas agendas e princípios. Obviamente, desde que tenha experiência política para tal.
Essa observação nos mostra que o que Bolsonaro deseja, propõe e o que faz são coisas bem diferentes daquelas que povoam as manchetes de jornais. Aliás, na atual conjuntura política, os órgãos da grande mídia são mais partidos de oposição do que imprensa. Mas isto é outra história.
Voltando às ideias, princípios e projetos de Jair Bolsonaro, é preciso perceber que, apesar da observação atenta e honesta levar a compreensão do Brasil que Bolsonaro quer, essa percepção não chega à massa de uma maneira correta. E isso ocorre por diversos motivos.
Primeiro que o próprio Bolsonaro não transmite essas ideias sistematizadas no seu discurso e não possui um partido político para fazer esse papel de forma auxiliar. Para captar isso de forma organizada, não é possível ser um leigo em política, é preciso alguma experiência e conhecimento.
Segundo que, além do presidente não ter essas ideias organizadas, a estrutura de comunicação que o atende também não compreende o que ele pensa, pois são profissionais da comunicação social e não da ciência política. E, se não recebem isso pronto de algum lugar, não podem comunicar adequadamente.
Terceiro que esse lugar, essa estrutura que organize e comunique as ideias, projetos e ações de Bolsonaro parece não existir na estrutura do Palácio do Planalto. É uma ferramenta que, talvez, seu entorno entenda desnecessária.
Em quarto lugar, há uma fortíssima oposição formada pela imprensa, partidos políticos, ONGs, estados estrangeiros e, até pelo crime organizado, trabalhando feroz e eficientemente para comunicar a sua versão do pensamento, das ideias, projetos e atos de governo do Presidente Bolsonaro.
Com isso, passados quase três anos de mandato, a maior parte do eleitorado não compreende o que Bolsonaro quer, o que Bolsonaro fez e o que Bolsonaro pretende fazer na Presidência. A simpatia dos seus militantes fiéis se dá mais por conta de uma identidade comum em relação aos valores professados pelo presidente. Do seu capital de 57 milhões de votos no segundo turno de 2018, a maior parte se esvaiu pela incompreensão dos atos de Bolsonaro e pela propaganda das oposições.
É preciso que se compreenda, também, que não se trata apenas de dizer o que o governo faz. Não estamos falando daquelas peças publicitárias frias elencando um rosário de realizações. O que falta é comunicação política, estratégica, que organize um discurso baseado nas ideias do grupo político do presidente e mostre a relação entre discurso e ação. E há muito o que fazer em relação a isso.
O enorme esforço que vem sendo feito pelo Governo e por sua base no Congresso pode ser em vão se não houver comunicação adequada e ampla sobre quem é, o que quer, o que pensa, o que faz, por que faz, como faz e o que pretende fazer Jair Bolsonaro.
O trabalho da oposição é muito facilitado e os esforços do Governo parecem com o mito de Sísifo, o rei de Éfira condenado pelos deuses a subir montanha acima com uma pedra que, quando se aproxima do cume, rola morro abaixo, exigindo que todo o trabalho seja recomeçado “ad infinitum”.
Por que o governo mantém essa situação politicamente suicida? Até quando o presidente seguirá tendo que se defender em lives semanais que, embora de grande audiência, são pregações para convertidos, já que quem as assistem são os seus apoiadores fiéis ou inimigos em busca de uma fala polêmica?
Para quem sabe o que o governo é, o que já fez, o que pensa e o que pretende fazer é agoniante ver o êxito dos que mentem e distorcem tudo pela inércia do Planalto em fazer o óbvio, a omissão em fazer o mínimo em questão de estratégia política de comunicação. Em política, o que o povo não sabe, é como se não existisse.
Se o governo não se preocupar em falar com o eleitorado médio, aquele que pode votar em qualquer candidato por não ter fidelidade a um determinado político – ou seja, a maioria dos eleitores -, então todos os esforços de gestão serão insuficientes para reeleger Bolsonaro.