A convocação feita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro deve culminar com uma multidão reunida na Avenida Paulista neste domingo (25/02). As centenas de milhares ou, quem sabe, os milhões que forem ao local ainda não sabem bem o que ocorrerá no evento.
Para que se compreenda a razão e a necessidade dessa manifestação, vamos analisa-la no contexto amplo da situação da democracia brasileira.
Conforme já expliquei aqui em outros artigos, a eleição de Jair Bolsonaro provocou uma ruptura nos interesses e relações de grupos de poder político ou econômico junto ao governo central. A inevitável reação desses prejudicados ao longo dos quatro anos é já nossa velha conhecida.
A ESTRATÉGIA DO REACIONARISMO ANTIBOLSONARISTA
A estratégia foi clara: afirmar que Bolsonaro seria uma ameaça à democracia e ao Estado de Direito. Com a massificação dessa narrativa, foi possível legitimar uma série de ações, ao arrepio da democracia e do Estado de Direito, contra Bolsonaro e seus apoiadores.
Nesse contexto vimos as maiores barbaridades acontecerem com verniz de atos heróicos sob os olhos da mídia (um dos grupos de poder afetados pela gestão Bolsonaro). Vimos, até mesmo, a celebração do atropelo das prerrogativas presidenciais, em nome da “democracia”, como ocorreu na proibição de nomear o Delegado Ramagem à chefia da Polícia Federal. Coisa que Bolsonaro, erradamente, aceitou, dando ouvidos a militares do seu entorno.
Também vimos o que foi feito no âmbito do inacreditável “Inquérito das Fake News”, notadamente contra o jornalista Allan dos Santos. Coisas que fariam Filinto Müller sentir orgulho, se vivo estivesse.
Mas essa bola de neve das arbitrariedades foi se avolumando. Sob o irônico pretexto da defesa da democracia e do Estado de Direito, tanto aquela quanto este seguiram sendo estuprados. Retira-se Lula da cadeia. Devolve-se a elegibilidade ao petista. E Lula é declarado eleito.
BOLSONARO FORA DO PLANALTO
Com Bolsonaro fora do Planalto, agora é preciso destrui-lo e devolver a disputa política brasileira à “normalidade” de uma disputa entre a extrema esquerda petista e a esquerda moderada tucana. Não é possível arriscar um retorno futuro de Bolsonaro e seu grupo ao governo, muito menos as consequências disso para os grupos de poder que sempre se serviram do Estado. Ainda mais agora que os parasitas estavam de volta ao hospedeiro.
Bolsonaro agora está inelegível. Mas, não basta. Para eles, é preciso prendê-lo e destruir sua influência o mais que isso for possível. Além disso, eles entendem que o próprio movimento conservador precisa ser extinto ou, pelo menos, criminalizado, para que não se reproduza em outras esferas de poder.
Para isso, temos visto operações policiais fundamentadas em prints e outros absurdos. A sentença parece já estar dada. E é ela o ponto de partida processual. Primeiro, condena-se e depois pescam-se as “provas” em uma série de operações sem fundamento contra quem nada fez de errado.
A NECESSIDADE DA MANIFESTAÇÃO
Essa breve lembrança da conjuntura em que ocorre a manifestação de domingo nos serve para compreender que não estamos em uma situação normal. Se estivéssemos, Bolsonaro poderia defender-se nos autos e tudo se esclareceria. Mas não estamos em um julgamento judicial. Trata-se de um julgamento político.
E, por estarmos no contexto de um julgamento político, só há uma alternativa para Bolsonaro: defender-se politicamente. Para isso, precisará mostrar sua força com a multidão arregimentada na Avenida Paulista, onde fará sua defesa em discurso público, já que a defesa nos autos do processo é inócua.
Se isso evitará ou não a prisão de Bolsonaro, não sabemos. É muito provável que seus algozes não estejam preocupados com o sentimento popular. E uma revolta dos apoiadores de Bolsonaro contra sua prisão seria sufocada com a polícia e, se necessário, com as forças armadas.
Mas, na Avenida Paulista, neste 25 de fevereiro, Bolsonaro poderá deixar claros as suas razões, suas versões e o tamanho do apoio que tem na sociedade.
E, assim, caso a sanha autoritária do regime continue, o povo ao menos terá a consciência do que está acontecendo. Dessa forma poderá julgar à luz do que se trata realmente: não é a luta da Justiça estatal contra um criminoso, mas a luta de um sistema pesado, composto de grupos de poder nacionais e estrangeiros, contra uma liderança que ousou colocar os interesses do Brasil e da sociedade acima deles.