Para entender a repercussão do caso Queiroz/Flavio Bolsonaro

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Para começar a entender toda essa balbúrdia é preciso ter duas coisas em mente:

1) A situação de Fabrício Queiroz e suas movimentações financeiras são suspeitas e o fato de se tratar de um ex-servidor comissionado do gabinete de Flavio Bolsonaro coloca o senador eleito em suspeição. A história precisa ser explicada e, havendo crime, que seja punido nos termos da lei. Se houver justificativa de licitude para as movimentações, vida que segue.

2) A chegada de Bolsonaro ao poder significa uma bomba atômica sobre muitos e muitos interesses e privilégios consolidados de grupos poderosos, os donos do poder desse país. É uma máquina de privilégios, de interesses, de irrigação de dinheiro público para alguns grupos e de influência nas regulamentações estatais que os beneficiam e que está sob imenso risco diante dos planos de Jair Bolsonaro e de seus dois principais auxiliares: Paulo Guedes e Sergio Moro.

Partindo desses dois princípios, analisemos o que vem acontecendo. Após Bolsonaro anunciar que o COAF sairia do Ministério da Fazenda e iria para o Ministério da Justiça comandado por Sergio Moro, uma investigação deste órgão sobre movimentações suspeitas que envolveriam membros da Assembleia Legislativa fluminense apareceu. Nela, uma lista em que muitos deputados estaduais aparecem e que, Flavio Bolsonaro, por conta de seu ex-funcionário Fabrício Queiroz, também está. Até aí, tudo certo: é papel do COAF investigar isso aí mesmo, desde que exista autorização judicial, o que não aconteceu. Mas o diabo mora nos detalhes. E quais são os detalhes?

1. Há assessores de dezenas de deputados envolvidos e só Flavio Bolsonaro é manchete, a despeito das supostas movimentações relativas ao seu gabinete serem infinitamente menores que a de muitos outros, inclusive André Ceciliano, do PT, prestes a ser reeleito Presidente da Assembleia Legislativa.

2. A justificativa tosca de que Flavio é o único a ser notíciado e investigado porque seu pai é o Presidente é ridícula. Onde há suspeita, todos devem ser investigados. Ademais, André Ceciliano é Presidente da Alerj e concorre à reeleição.

3. Elizangela, funcionária de Ceciliano sobre quem recaem as mesmas suspeitas que sobre Queiroz, e o próprio Ceciliano não foram chamados pelo MP para esclarecimentos como Queiroz e Flavio, apesar de suas movimentações serem incomparavelmente maiores. Por quê?

4. Por que quebraram o sigilo bancário do senador eleito de forma irregular – sem autorização judicial – logo depois que seu pai foi eleito?

Além disso, é sabido por todos em Brasília o pânico que se abateu sobre funcionários do COAF, políticos e grandes empresas após o anúncio de que o órgão iria para o Ministério da Justiça de Sergio Moro. Suspeita-se que, se na Fazenda havia certo controle político sobre o órgão, na Justiça e com Moro a situação complicará para os poderosos. E, então, começaram os vazamentos de informações do COAF sobre Flavio Bolsonaro e seu assessor Queiroz.

Mas os absurdos não se restringem à ação de órgãos públicos como o MPRJ e o COAF. A cobertura da TV Globo também demonstra desespero, ou ainda, seu pânico com o governo Bolsonaro. A famosa máquina de moer políticos da Globo está em ação como nunca e só se fala de Flavio Bolsonaro na TV, nos jornais O Globo, Extra e na Radio CBN. E por que isso? Ora, a Globo é uma empresa endividada e a maior parte dessa dívida é com a Fazenda Pública. Há alguns anos as Organizações Globo foram salvas por uma injeção de capital do BNDESpar. Sem falar nos anunciantes da Globo que pressionam para que a cobertura seja feita dessa forma e que respingue e enfraqueça Jair Bolsonaro. Para ficar em um só exemplo, há grandes bancos que anunciam nos veículos da Globo e eles não devem estar muito satisfeitos com o fim do capitalismo de compadrio que Paulo Guedes tem anunciado. Ou vocês acham que, por exemplo, os bancos não reagiriam à intenção de Guedes e do Governo Bolsonaro de facilitar o surgimento de mais bancos, sobretudo regionais, quebrando o oligopólio das seis instituições que comandam o nosso mercado financeiro?

Está tudo muito na cara de todos. Ainda que partíssemos do princípio de que Flavio Bolsonaro e seu motorista Queiroz cometeram crimes, o volume da cobertura da imprensa sobre o tema, algo que há mais de um mês consome as manchetes com exclusividade, além do silêncio sobre os outros suspeitos, a maioria em montantes muito maiores, é prova inequívoca de que estamos diante de uma campanha orquestrada pelos que querem minar o Governo Bolsonaro, não pelos nobres motivos do combate à corrupção e esclarecimento de suspeitas, mas porque pela primeira vez o governo da União ameaça o capitalismo de Estado materializado no compadrio entre certos grupos econômicos, classistas e de interesses e o poder político de ocasião que sempre funcionou no Brasil.

Poderíamos ainda falar dos muitos outros grupos ameaçados pelas intenções do novo governo: grupos criminosos, partidos de Esquerda, servidores que temem perder grandes privilégios, empresas amigas do PT que foram financiadas a juros baixos pelo BNDES, grandes bancas de advogados que atuam nas áreas tributária e criminal, jornalistas que tiveram divulgados os valores de suas palestras pagas com dinheiro do povo, etc, etc, etc.

Enfim, que não percamos de vista que, apesar da necessária punição a quem eventualmente tenha cometido crimes, não podemos ser inocentes de entrar no jogo a ponto jogarmos contra os interesses do país e a favor da manutenção daquilo que o Presidente Bolsonaro e os ministros Guedes e Moro querem mudar.