Embora incensado pela imprensa e pelos puxa-sacos habituais, declarado eleito pelo TSE e empossado na Presidência da República, por que Lula não para de falar de Jair Bolsonaro? Não há um discurso em que o ódio de Lula por seu antecessor não ocupe o espaço do alegado amor de Lula pelo povo brasileiro.
Essa obsessão do petista por Bolsonaro é a ponta do novelo que explica o que move o ancião Lula aos 77 anos.
Lula é um sujeito financeiramente resolvido, “dono” de um partido político bilionário, com três mandatos presidenciais no currículo e uma récua de milhões de apoiadores. Porém, como se diz, a vaidade é o pecado preferido de Satanás.
Recém-saído da cadeia, Lula vê sua biografia maculada. Não estava nos planos do petista, sempre bajulado desde os tempos de sindicato, ver sua imagem transformada na de um chefe de organização criminosa, ladrão e afins.
A volta de Lula à Presidência é um projeto do establishment, é verdade, mas é antes o último capítulo do projeto pessoal de Lula para sua imagem e trajetória. Lula não quer ser um presidente, um político, um líder partidário ou um servidor do país. Seu projeto é ser uma lenda, o maior brasileiro da História, um lendário líder de massas.
O desconforto de Lula com a forma com que Jair Bolsonaro é tratado por seus apoiadores, que o chamam de “mito”, já foi confessado pelo próprio petista. Em abril de 2021, ele não conteve sua revolta e disse: “Nunca fui chamado de mito, porque mito é coisa de fascista, miliciano”. Passou recibo.
Um segundo líder de massas no Brasil não estava em seus planos. Lideranças dessa envergadura não são comuns no Brasil. O primeiro e único até Lula fora Getúlio Vargas, que teve a seu favor a máquina de propaganda do Estado Novo. Quis o povo brasileiro que o terceiro líder de massas da nossa história republicana viesse a atrapalhar as ambições delirantes do ex-presidiário.
Lula já se comparou ao próprio Getúlio, a Nelson Mandela e até a Jesus Cristo. Com Getúlio há a correspondência da liderança política, embora sem a dignidade do gaúcho que preferiu a morte à desonra. Com Mandela, Lula tem a semelhança da cadeia, embora o sul-africano tenha cumprido sua pena sem ajuda de chicanas judiciais. Em Jesus, Lula só se avista nos alertas feitos pelo nazareno sobre as artimanhas do demônio.
A volta à Presidência é parte do projeto de redenção do petista, que quer fazer com que seu retorno seja visto como um pedido de desculpas do país por suas condenações. Nesta etapa, ele teve forte colaboração de todos os poderosos do país. Além disso, ele sonha com o Prêmio Nobel da Paz, como o homem que saiu da cadeia para pacificar um país. E o prêmio não é improvável, dado o interesse do establishment mundial na Amazônia, que Lula não hesitaria a entregar em troca da honraria.
Mas, Lula quer mais: ele deseja (e precisa) destruir Bolsonaro para figurar como a grande figura pública da História do Brasil. Essa é a razão porque Lula não para de falar de Jair Bolsonaro: ele não tolera ver o país dividido com outra liderança. Um país do qual ele julga ser o dono.
O líder conservador é o grande obstáculo de seu único projeto restante: ser retratado pela História (que é contada pela corriola dele) como uma figura lendária. E para ser “lenda”, não pode haver um “mito” por perto.
O problema é que, para isso, é preciso combinar com metade do povo brasileiro.