A fala recente de Lula sobre sua intervenção a favor dos sequestradores do empresário Abilio Diniz em 1989 pareceu para muitos um deslize de sua verborragia. É verdade que Lula tem cometido alguns escorregões recentes em seus discursos, mas aceitar que essa escandalosa confissão sobre sua atuação a favor destes criminosos foi uma falha, vamos combinar, é muito inocência.
Não, não foi um deslize, obviamente. Lula sabia a repercussão que essa barbaridade ia ter, mas ele precisava pautar a oposição e dar à sua “companheira imprensa” a munição necessária para tirar o foco de um problema muito maior.
O sequestro dos bens do contador particular da família Lula da Silva é nitroglicerina pura. João Muniz Leite tem ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC) e com o tráfico internacional de drogas. Já resgatou dezenas de prêmios de loteria. E seu endereço é a sede oficial de muitas empresas da família de Lula.
Os assuntos sobre o contador já desapareceram do noticiário e não tiveram qualquer repercussão entre os colunistas da grande imprensa. Um vínculo tão estranho seria objeto de infinitas resenhas se envolvesse o atual presidente, Jair Bolsonaro. Mas, como envolve Lula, o tema evaporou.
O vínculo de Lula com os criminosos do MIR que sequestraram Abílio Diniz é algo distante no tempo, não há inquérito sobre o assunto (e nem haverá) e, apesar de gerar escândalo suficiente para abafar a história do contador, causa prejuízos ínfimos. E o contador pode ser a ponta de um novelo bombástico para o petista.
Lula e a grande mídia já fizeram suas partes no trabalho de abafar o vínculo íntimo de Lula com o contador do PCC. Cabe a nós não cairmos nessa pegadinha e lembrarmos que isso pode ser algo muito pior que Mensalão, Petrolão, Triplex e Sítio de Atibaia.
Os deputados e senadores do lado antipetista/bolsonarista morderam a isca do ex-presidiário. Esqueceram o contador e falaram um pouco no caso dos sequestradores, mas logo logo vão esquecer disso também.
Com adversários assim, não é de se espantar que Lula tenha saído da prisão para as urnas e que até consiga vencer as eleições, colocando o padrinho de Moraes, presidente do TSE durante o pleito, de vice de sua chapa e garantindo a boa vontade de quem conta os votos.
A quase indiferença dos parlamentares ligados a Bolsonaro com o caso do contador de Lula é um bom retrato de como Bolsonaro está mal servido de aliados. É muita incompetência e falta de noção do que é uma guerra política.
Aqueles deputados bolsonaristas que debocham de Randolfe “DPVAT” Rodrigues precisavam aprender muito com ele. Imagine o que ele estaria fazendo se o contador do PCC fosse o mesmo do Bolsonaro. Isso para ficar apenas nesse exemplo.
Enquanto Bolsonaro se mata pelo país, seus deputados e senadores caem na armadilha lulista como patinhos e deixam o contador cair no esquecimento. Se a reeleição escapar, isso vai se dever muito à colaboração dos que se elegeram nas costas de Bolsonaro.