Morei durante muitas décadas próximo de uma paróquia dedicada à memória do mártir São Jorge. Nela eu assistia as missas dominicais durante a maior parte do ano. Além disso, pela proximidade, conseguia ver o fluxo de pessoas nos outros horários de missa.
Causava-me estranheza que, todos os anos, no dia 23 de abril, data que o calendário litúrgico dedica a São Jorge, o fluxo era muitas e muitas vezes maior. Eram aquelas dúvidas juvenis de um tempo sem internet e sem ter muito o que fazer, além de ficar olhando as coisas pela janela.
Não muito longe dali, na igreja catedral, esta dedicada a Santo Antônio, o quadro se repetia. O público nos dias de festa do padroeiro era imensamente maior nas missas.
Há mais de um motivo para que o número de assistentes à missa seja maior nas datas festivas. Dentre eles, o fato de que devotos daquele santo de outras paróquias e mesmo de outras cidades, visitam a igreja dedicada a eles no dia festivo. Sobretudo, no caso dos dois santos mais populares do Brasil, além da Virgem Mãe.
Mas não era apenas isso. Havia aqueles que moravam nas redondezas da paróquia, mas nunca iam às missas, entretanto convertendo-se em católicos fervorosos que no dia do santo para agradecer por uma graça ou pela proteção recebida.
Os anos passaram e isso continuou me intrigando. Há aí um problema sério. E que o tempo me mostrou é que não se trata apenas de um defeito dos visitantes eventuais à Santa Missa, mas também de muitos dos que vão religiosamente nos domingos e dias de guarda.
POR QUE VAMOS À MISSA?
O que nos tira de casa espontaneamente aos domingos ou apenas nos dias festivos rumo à igreja para assistir à missa é o amor. E você que me lê poderia exclamar: “que bom! Ora, que mal há em agir por amor?”. E eu respondo: “pode haver um grande mal no amor, a depender do quê, como e o quê você ama”.
Nós vamos à missa, na maior parte dos casos, por amor a nós mesmos. O devoto do santo “tal” que vai para agradecer a graça e/ou a proteção recebidas pela intercessão do seu patrono, o faz porque vê naquilo um benefício.
É por zelo e amor a nós mesmos que, em regra, nós vamos à missa. Mesmo que vá agradecer por uma graça obtida em favor do próximo, o faz porque o próximo é importante para ele.
E, com o tempo, é inevitável que o sujeito pense: “o que faço na missa, posso fazer em casa”. E, considerando o que o levava à igreja, tem razão.
A MISSA É ORDENADA A DEUS
Mal não há em amar-se. Mas não é ao amor próprio do devoto que está ordenado o sacrifício da missa e o sacramento da Eucaristia. O fogo que deve nos mover a sair de casa para a missa é o amor por nosso Deus, que nos deu a vida e, portanto, a Quem tudo devemos.
É verdade que não se improvisa o amor a Deus. Se não sentimos vontade ou disposição neste domingo de ir até a uma igreja próxima assistir à missa, é porque estamos em falta grave ao primeiro mandamento.
Mas você pode perguntar-se: “mas vou fingir que sinto essa vontade?”. Não, você não precisa fingir, mas você deve buscar essa vontade. Como? Indo à missa por um imperativo da sua razão.
Fé e razão andam juntas. Uma sem a outra seria como um pássaro de uma asa só. Aquele que não tem o fervor do amor a Deus pela graça como ocorreu com São Francisco de Assis, deve busca-lo usando a razão. Você tem o dever de consagrar o seu domingo, antes de mais nada, Àquele a quem você deve o seu ser, ou seja, a quem você tudo deve.
O hábito da missa fará com que Deus vá infundindo em você o Seu amor. Ademais, Caridade é graça, não depende da sua vontade. Tudo o que nossa vontade pode fazer é decidir começar a busca-la, ainda que em desacordo com a tentação do seu desejo de ficar dormindo ou de dedicar nosso domingo a nós mesmos. Nós que, a rigor, somos aquele que, via de regra, desgraçadamente amamos sobre todas as coisas.
CHAMANDO À RAZÃO
Algumas vezes desejei que algum padre em alguma missa dissesse essas coisas aos fiéis. Nunca ouvi. Se o pastor não corrige o rumo, é inevitável que as ovelhas se dispersem. Quem sou eu para ensinar o padre a rezar missa, mas não se trata disso.
Tomei conhecimento do gráfico abaixo. Nele, podemos verificar que a frequência regular à missa dominical é de apenas 8% do contingente católico, no caso do Brasil. É evidente que há um problema. E um problema grave, que pode repercutir por toda a Eternidade.
Está claro que, se os fiéis não estão indo à missa por iniciativa própria, é preciso chamá-los à razão. Tal qual o médico que explica ao diabético a necessidade de evitar o açúcar para a saúde do corpo, devem os sacerdotes explicar racionalmente os efeitos da evasão às missas para a alma.