O Evangelho que a Igreja nos apresenta nesta terça-feira, 09 de fevereiro de 2021 suscita para mim uma reflexão fundamental para a Igreja do nosso tempo. Na minha experiência pessoal de católico é a temática que sempre me pareceu crucial na minha vida na Fé.
Ao longo dos anos escutei os dois lados dessa equação e acredito que tenha identificado o valor da variável que nos mantém divididos e sangrando.
Apelando para uma metáfora, podemos identificar basicamente dois lados que suscitam aspectos problemáticos na caminhada da Igreja se as identificamos como direita católica e esquerda católica. A metáfora política é imprecisa, mas nos ajuda a rascunhar o problema.
De um lado temos católicos cobertos de razão que apontam a necessidade de uma vida espiritual rigorosa, de uma frequência fiel aos sacramentos e muita oração. De outro lado, temos católicos igualmente cobertos de razão, profundamente preocupados com as obras que devem frutificar da fé professada pelo rebanho do Senhor.
Essa polarização cria um problema. Ao acentuar o problema do outro, cada um se esmera nas suas virtudes e negligencia suas deficiências. Os árbitros dessa contenda, os sacerdotes, acreditam que as críticas são injustas, pois pela natureza do seus ofícios vivem uma vida religiosa equilibrada entre aspecto devocional e as obras. Mas pecam ao não perceber em seus filhos espirituais o desequilíbrio.
Pertenço a uma comunidade religiosa – a Igreja de Nova Iguaçu – com acentuado carisma nas virtudes sociais, mas profundamente deficiente na espiritualidade. Os sacerdotes ficam muito aborrecidos comigo quando eu digo isso pelas razões que já expus anteriormente: eles julgam a comunidade por eles próprios.
E relembrando o profeta Isaías, o que o Senhor nos diz no Evangelho de hoje é: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim”. É fácil percebermos que é muito semelhante ao que vemos hoje. Pessoas pronfundamente ciosas das formalidades da lei, porém indiferentes à vivência da fé que julgam professar.
Todavia, uma reação que assistimos a esse comportamento santarrão na Igreja nos últimos cinquenta anos não foi muito eficiente, porque não atuou na causa, mas no efeito que se esperava.
Ora, se a espiritualidade vazia não dava os frutos que dela se espera, a atuação pastoral deveria se voltar para que nos aprofundássemos na essência de uma vida em comunhão com Cristo a partir da maturidade espiritual. E dela os frutos viriam por acréscimo.
A vida espiritual foi vista como o problema (por alguns) e não como a solução. Para os críticos das “beatas fofoqueiras” – valendo-se de um estereótipo popular dessas figuras que só cumprem as formalidades religiosas – deveríamos nos concentrar nos frutos da espiritualidade, nas boas obras e diminuir o aprofundamento da necessidade de uma espiritualidade viva e verdadeiramente em comunhão com Jesus Cristo.
É difícil e desanimador falar disso com os padres “progressistas”, pois como já falei duas vezes acima, eles medem a comunidade por eles próprios. Não percebem que sem muito pão espiritual, a comunidade não pensa no pão que falta na mesa do irmão. Não adianta esperar que a Igreja (a comunidade dos católicos) vai estender a mão para o próximo com uma espiritualidade desordenada. Não vai. Não vai, meus queridos sacerdotes.
Saiam da bolha e olhem o que os crentes católicos fizeram nas últimas quatro ou cinco décadas. Milhões de católicos foram procurar uma ordenação dos seus espiritos nas congregações protestantes e muitos estão dando frutos para o próximo por lá.
Não adianta a Igreja fazer a opção preferencial pelos pobres, porque os pobres farão a opção preferencial pelos protestantes sempre e sempre. A opção preferencial deve ser por Cristo e, pela comunhão espiritual com o Senhor. Só assim Deus infundirá no coração dos nossos fiéis a sua “caritas” para a Igreja cumprir uma de suas missões que é a de diminuir o sofrimento dos mais vulneráveis.
Este é o valor da variável da equação, é o x da questão. Acreditem, senhores sacerdotes. Recorrendo mais uma vez a uma metáfora pobre, a Igreja é uma espécie de “academia” do espírito. Se na academia malha-se o corpo em busca de um corpo saudável, na Igreja se aperfeiçoa o espírito para a plenitude na graça de Deus. Não teremos corpos malhados sem exercícios. Não teremos as grandes obras que podemos fazer sem espíritos “malhadores”.
Não adianta apelarmos para anabolizantes em busca de resultados, pois assim não teremos corpos saudáveis. Não adianta focar nas obras sem a comunhão plena com Cristo que alcançamos pela vida de estudos, meditação da fé, oração, terço diário, vida nos sacramentos, boa catequese das crianças com foco na espiritualidade e tudo o mais que já sabemos há dois mil anos pela lição dos santos e através sagrado magistério dos papas.
Aos meus veneráveis amigos sacerdotes, ofereço esse olhar daqui dos bancos da Igreja àqueles que nos veem desde o altar.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.