Perdi no último domingo um bom amigo. Figura admirável, Robinson Belém de Azeredo era para mim o esteriótipo do iguaçuano. Boa praça, profundo conhecedor da história e das famílias da cidade e um bom amigo dos seus amigos, valorizava as raízes de todos nós porque sabia que árvore sem boas raízes não pode dar bom fruto.
Essa nossa amizade começou há muitos e muitos anos e nos foi deixada de herança. Meu bisavô Custódio José da Silva era o melhor amigo do Sr. Avelino de Azeredo, pai de Robinson. Onde um estava, lá estava o outro. Conheci o Correio da Lavoura e o próprio Robinson através do meu bisavô – com quem convivi por 14 anos – quando com seu famoso Fusca ia entregar a edição do jornal em sua casa.
Nossa amizade não era apenas do meu lado materno, através do velho Custódio, mas também através de meu pai, seu parceiro de copo no Bar do Jobinho. E essa amizade entre nossas famílias continua pela minha geração e do Vinicius, outro queridíssimo companheiro, que apesar do seu péssimo gosto futebolístico, compartilha comigo uma frutuosa amizade.
Mas não foi apenas por amizade que nos relacionávamos. Além de uma recente parceria de negócios, colaboro desde 2009 com o Correio da Lavoura com as mal traçadas linhas dos meus artigos sobre essa nossa terra iguaçuana. E nessa relação de colunista e editor conheci a mais admirável característica de Robinson Belém de Azeredo: um democrata indiscutível.
Nunca falamos de política, mas em algumas de nossas conversas e pelas leituras que ele demonstrava gostar, eu sabia que tratava-se de um homem de Esquerda ou de Centro-Esquerda, talvez. Mas nunca, em tempo algum, fui interpelado pelo que escrevi ou censurado pelo meu editor. Tudo o que escrevi foi publicado sem qualquer alteração ou contestação, apesar de ser eu um Conservador e opositor da Esquerda.
Há alguns anos parei de escrever semanalmente no jornal. Minha colaboração tornou-se muito eventual, mas sempre presente nos aniversários desse jornal que não é só da família Azeredo, mas também da minha família. Ali está registrada a minha história também em anúncios das empresas que tivemos, nos textos que escrevi e em notícias sobre meus familiares.
Na nossa última conversa telefônica, com seu indefectível modo de falar como se datilografasse oralmente as palavras, ele se despediu ao final da ligação com a sua já tradicional exortação: “Meu amigo, um abraço. E continuo esperando pela sua colaboração regular ao Correio da Lavoura. Não pare de escrever, Nova Iguaçu precisa das suas palavras e dos seus artigos”.
Lamento que minha colaboração após essa última exortação seja para homenageá-lo “post mortem”. Não morre, porém, quem deixa um legado. Silvino, Avelino, Gerson e Robinson estarão sempre marcados na vida iguaçuana.
O Correio da Lavoura, a instituição privada há mais tempo em atividade em nossa cidade, é o registro histórico, documento único e inigualável de nossa terra e seguirá contando nossa trajetória, queira Deus, com as boas notícias que Robinson gostaria de noticiar.