E eis que o nosso bravo O Estado de São Paulo – cuja propriedade já foi de um meu conterrâneo, o iguaçuano Rangel Pestana – resolveu se arvorar em defensor da figura do Marechal Manoel Deodoro, que passou para a História como o proclamador da República, mas que na verdade foi um traidor de seu superior, o Imperador Dom Pedro II.
Em um editorial infame nesta terça-feira, 19/11, o jornal O Estado de S. Paulo pede a demissão imediata do Ministro da Educação Abraham Weintraub. Segundo a opinião do jornal, o Ministro não é uma pessoa capacitada para o cargo e teria cometido uma estultice ao emitir juízo negativo sobre a Proclamação da República e sobre seu protagonista e por tecer elogios à forma monárquica de governo.
Ainda segundo o editorialista, o Ministro Abraham faz uma péssima gestão do Ministério que comanda – mas não aponta quais são os problemas.
O manifesto dos Mesquitas ainda considera a conduta do Ministro indecorosa porque ele deu algumas respostas grosseiras através de seu perfil no Twitter e também por costumar fazer algumas brincadeiras. Segundo o editorial, Abraham não se comporta à altura do cargo e deve ser sumariamente demitido. Curiosamente, quando o Ministro de Educação era Aloizio Mercadante e ele foi flagrado oferecendo ajuda em troca do silêncio de Delcídio Amaral – um crime escandaloso – o jornal não achou a postura tão indecorosa quanto às brincadeiras do Ministro Abraham e não pediu sua demissão.
Fica claro que para o jornal o crime do Ministro é de opinião e somente de opinião. Essa afetada indignação do jornalão paulista é bem característica da elite nacional: escandaliza-se mais com um xingamento ou com miudezas do que com crimes hediondos, obstrução da Justiça ou com roubos de bilhões.
Dos grandes jornais brasileiros o Estadão é o menos pior. Não é bom, é apenas o menos pior. E, por esse motivo, era o jornal que eu assinava até hoje por conta do meu atávico hábito de ler jornal de manhã. Hoje cancelei a assinatura. Chega, não dá. Defender um golpe de Estado nessa altura do campeonato não dá. Esse editorial foi uma palhaçada, uma afronta à liberdade e não podemos ficar indiferentes. O que me cabia fazer, eu fiz: demiti o Estadão da minha vida.