Há muitos fatos relevantes na história desse pedaço do mundo que hoje conhecemos por Nova Iguaçu. Podemos citar as primeiras lavouras de cana, os engenhos que produziam o açúcar, a abertura do Caminho do Comércio, o Porto do Rio Iguaçu, as lavouras de café no século XIX e de laranja no século XX, a abertura da Via Dutra e da Via Light, os loteamentos após o fim da citricultura, dentre outros.
Todavia há um que mudou para sempre a nossa história e, para o bem e para o mal, selou nosso destino: a construção da Estrada de Ferro Dom Pedro II, rasgando o município de Iguassú desde Olinda (atualmente no município de Nilópolis) até Belém (atual Japeri).
Correspondente ao atual Centro de Nova Iguaçu, a localidade de Maxambomba recebeu uma estação da nova ferrovia. No seu entorno começou a florescer um vilarejo. A parada do trem foi, década a década, desenvolvendo a localidade que, a certa altura, crescia mais rapidamente do que a sede do município, que localizava-se onde no local que hoje chamamos de Iguassú Velha.
A Estrada de Ferro Dom Pedro II facilitou o desenvolvimento da lavoura de laranja, pois escoava com facilidade a produção que vicejava nas duas margens da ferrovia.
A importância da estação de Maxambomba e, consequentemente, da cidade que surgiu ao seu redor, levou à transferência da sede do município da antiga Iguassú para a Nova Iguaçu.
Posteriormente, o ramal de Japeri de trens de passageiros tornou-se fator decisivo para a conversão do nosso município de capital da citricultura nacional em uma cidade-dormitório. Uma das vantagens de comprar um lote no município iguaçuano era o de chegar à capital pagando uma tarifa módica.
Todavia, a importância da ferrovia no destino iguaçuano não é percebida, porque não é conhecida, refletida ou lembrada. Os sinais da nossa indiferença com esse divisor de águas da nossa história se vê na falta de referências históricas na estação e no próprio estado lastimável dela: suja e degradada.
Há, ainda, algo que poucos devem ter notado e que, embora simples de resolver, nunca foi sequer cogitado. O realizador da obra que marcou nossa cidade não tem sequer uma rua, uma praça, uma travessa, um beco, uma estátua ou uma placa em sua homenagem em Nova Iguaçu.
Dom Pedro II foi Imperador do Brasil, o que por si só já exigia alguma referência na cidade. Mas foi ainda o chefe de governo e de Estado que construiu a estrada de ferro.
Margeiam a ferrovia em grande parte do município dois ex-presidentes do Brasil que, provavelmente, nunca aqui estiveram e nada fizeram por Nova Iguaçu: Tancredo Neves e o Marechal Floriano. Este último, ainda por cima, foi um ditador. Mas, para Dom Pedro II, que foi um benfeitor da cidade, nada.
O segundo imperador do Brasil ainda foi responsável pela construção da Estrada de Ferro Rio do Ouro, que serviu aos trabalhos da canalização de águas para abastecimento da então capital do Brasil, colaborando também para o desenvolvimento daquele quinhão do nosso município.
O que falta para que, por exemplo, a atual Praça da Liberdade, seja rebatizada como Praça Dom Pedro II? E, se alguma autoridade muito zelosa com a Liberdade não quiser mexer com ela, há outra praça que poderia receber o nome do imperador. Ela fica às margens da ferrovia e se chama – acreditem – Praça Chopin.
Não me consta que um dia o pianista polonês Fryderik Chopin tenha visitado ou promovido qualquer benefício para nossa cidade a ponto de merecer uma honraria negada até hoje para Dom Pedro II. Parece bastante razoável que o compositor dê lugar àquele que, para muitos, foi o maior dos brasileiros.
Um jovem aluno da nossa rede municipal que vê aquele senhor de barba branca nos livros escolares deveria saber que é muito mais íntimo e mais próximo dele do que imagina. Mas é preciso que essa identidade esteja mais expressamente revelada nos espaços públicos. Essa é apenas uma e a mais escandalosa das desconexões da cidade com sua história.