INTRODUÇÃO
É um lugar comum no debate entre os conservadores dizer que o Governo Bolsonaro tem muitos inimigos e que um deles é o próprio governo. Essa ideia surge, a meu ver, pela trágica comunicação política do Planalto e de todo o grupo político do presidente em construir um discurso para comunicar a ação política do governo. Inclusive, já tratei desse assunto em um artigo anterior.
Nem preciso dizer que isso não é um ataque ao presidente ou ao seu grupo que, na minha humilde condição de apoiador, me considero integrante. É tão-somente uma reflexão sobre um ponto que nos está sufocando e pode nos asfixiar.
Dando continuidade ao artigo anterior, parto agora para a sugestão de um caminho a seguir na construção do discurso e da marca do Governo Bolsonaro neste ano de luta pela reeleição.
TODO GOVERNO PRECISA TER UMA MARCA
Se perguntarmos aos brasileiros qual a lembrança positiva (vejam bem, estou tratando apenas do lado positivo) que o nome de Fernando Henrique Cardoso lhes traz, seguramente a resposta será o plano Real.
Do Presidente Collor, por sua vez, muitos se lembrarão da abertura da economia nacional. De Lula, a unificação dos programas sociais. E o sujeito nem precia ser paulista ou malufista para associar Paulo Maluf a um sem número de obras públicas (“rouba, mas faz”), tampouco fluminense ou brizolista para pensar nos CIEPs ao lembrar de Leonel Brizola.
Todos os governos são autores de muitos feitos, positivos ou negativos. Mas, via de regra, algo específico fica como marca positiva. E, qual seria a marca positiva do Governo Bolsonaro para a maioria da população?
Eu suspeito que quando um brasileiro comum – daqueles indiferentes à politica – pensa no Governo Bolsonaro, ele não o associa a nenhuma marca positiva relevante. Não porque não existam coisas boas no governo. Existem e são muitas. O que não existe é uma marca, por que não existe visão de unidade das ações de governo.
Chamo atenção para o fato de que me refiro aqui à percepção do brasileiro comum. É evidente que quem acompanha o governo, quer na oposição, quer na situação, tem seu juízo formado e uma imagem do governo. Mas esses convertidos não interessam aqui.
Estamos falando do eleitor que queremos conquistar. Qual a visão do consumidor que queremos conquistar sobre o nosso “produto” e o que este “produto” desperta nele? São as perguntas que devemos trabalhar para responder.
OS BENEFÍCIOS ASSOCIADOS À MARCA
Quando o cidadão pensa no plano Real de FHC, não é apenas o plano em si que está na memória, mas os benefícios associados a essa marca. O fim da corrosão dos salários pela inflação deu ao brasileiro médio uma dignidade que ele não tinha. Com o plano Real, ele passou a se alimentar melhor e a consumir mais com aquilo que antes perdia para o dragão da inflação.
No caso de Fernando Collor, sua marca positiva não trouxe benefício imediato ao cidadão comum. Não houve tempo. A abertura de mercado trouxe benefícios, naquele primeiro momento, apenas a algumas empresas e às classes A e B. Não há associação do feito a um benefício imediato para a massa. Não à toa, caiu com um sopro.
O presidente Lula, por sua vez, teve a sorte que nenhum outro jamais teve. Pegou uma economia arrumada pelo seu antecessor e o início de um ciclo econômico pujante com a alta das commodities. Sua marca – os programas sociais – ficaram associados não apenas aos seus resultados diretos, mas também à bonança daquela conjuntura.
É necessário, portanto, não apenas ter uma marca, mas também associa-la aos benefícios reais que ela produz na vida do cidadão. Porém, não é possível que isso aconteça sem a comunicação. E a comunicação, por sua vez, não pode acontecer sem que se compreenda o sentido de unidade das ações do governo.
A comunicação não tem apenas um propósito político-eleitoral, mas é também política pública. O governo precisa dizer: “olha, o que queremos para nossa sociedade é isso, isso e isso. E o caminho que estamos traçando é esse assim e assim”. Isso indica ao cidadão para onde estamos indo e como ele deve se preparar para aproveitar o bonde da história.
E QUAL É O SENTIDO DE UNIDADE DO GOVERNO BOLSONARO?
Bem, como já foi dito, o governo ainda não tem uma marca. Mas há características que dão unidade às ações do governo e que podem se transformar em uma marca. Eis as duas pedras de toque da atual gestão:
1. A principal característica do Governo Bolsonaro é a primazia do interesse nacional nas decisões de governo e de Estado. Isso nunca aconteceu antes em governos democráticos no Brasil. Nunca. Os interesses estrangeiros (sejam os de Estados, sejam os de corporações privadas) sempre tiveram vez e voz nas decisões estratégicas para o Brasil;
2. O Governo Bolsonaro reconhece a tragédia social brasileira e quer corrigi-la, mas orientado pelos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.
Em outras palavras: os programas sociais devem existir, podem até ser ampliados, mas, por outro lado, o governo atua para que o trabalhador e os micro e pequenos empreendedores tenham a vida facilitada para a promoção social através dos seus esforços e não por um sistema de manutenção da miséria. Existe aqui uma diferença fundamental para o modelo petista, que operava para a perpetuação da miséria como mecanismo político-eleitoral.
A essas características se associam outras como a defesa das liberdades civis, a ausência de casos de corrupção, os avanços econômicos apesar da pandemia, a modernização da infraestrutura, os avanços na segurança pública, dentre outros. Mas, as linhas mestras estão nas duas características em destaque acima.
Quem está lendo deve ter ficado preocupado e se perguntado: ora, mas são essas são as marcas do governo? Isso é muito complicado de ser visualizado e compreendido pelo povão.
Não, estas não são as marcas, são as características do governo. E a partir da compreensão das linhas mestras do Governo Bolsonaro, deve-se partir para a construção da marca e do discurso que deve retratar o governo que defende os interesses da nação e socorre os pobres e os miseráveis, trabalhando para promover a ascensão social dos que saem da miséria pelo seu esforço pessoal, tirando do caminho: as regulamentações excessivas, os entraves burocráticos, a tributação sufocante e a dificuldade de acesso aos serviços financeiros e ao microcrédito e a infraestrutura precária e obsoleta, para ficar em alguns exemplos.
Como isso vai virar uma marca simplificada? Bem, isso é trabalho para os marqueteiros. Podemos até debater isso, mas não aqui neste artigo, que não tem esse propósito.
O QUE SE PRETENDE FAZER NO PRÓXIMO MANDATO
Além dos feitos do atual governo para promover essa nova realidade para o nosso cenário socioeconômico, também se deve comunicar o que ainda não foi feito, mas que será feito no segundo mandato: programas do Ministério da Educação para a formação desses indivíduos que queremos promover socialmente, por exemplo. Programas do Ministério da Ciência e Tecnologia para inserir os mais pobres no cenário das novas profissões e novas aptidões em um mundo em constante inovação. Além das demais áreas.
É HORA DE ABANDONAR O DEBATE QUE NÃO DÁ VOTO
O ano é eleitoral e a eleição é vital. A maior parte da sociedade aderiu à vacinação e a vê como algo positivo. É um direito do cidadão decidir se vacinar ou não. Não tem mais sentido insistir nesse assunto se queremos conquistar o eleitorado que ainda não temos e que poderá nos dar a maioria no segundo turno.
Todas as questões que aborrecem o eleitorado moderado devem ser deixadas para um outro momento. O que o povo quer saber agora é do que pode dar certo, do que dará resultado na sua vida. E o Governo Bolsonaro tem o que mostrar. Não tem porque insistir no que o eleitor a ser conquistado não quer saber ou ouvir.
CONCLUSÃO
No Evangelho, Jesus nos ensina que nossa mão esquerda não deve saber do bem que a mão direita faz (Mt 6, 3). E assim devemos agir como cristãos. Mas um governo não pode se comportar assim porque, por definição, trabalha para seu povo e a ele deve satisfações.
O governante tem o dever de comunicar com clareza e não apenas dizer o que faz, mas como faz e porque faz. Não apenas a mão esquerda, mas o corpo inteiro deve saber.
O nosso povo não pode perecer por falta de conhecimento. Os destinos da nação não podem cair nas mãos do comunismo ou de suas linhas auxiliares – sejam de que via forem – porque não nos comunicamos da forma adequada.
Ainda há tempo. Pouco, mas há.